A ação da XP abriu em queda e mergulha 11% no início da tarde com o sellside questionando o aumento de custos e da necessidade de capital da companhia no segundo trimestre reportado ontem.

A XP mostrou recuperação das receitas no trimestre, mas a alta de custos e despesas chamou a atenção do mercado. As despesas totais cresceram 25% ano contra ano, acelerando em relação à alta de 21% no primeiro tri e de 19% no 4T21.

A margem EBITDA ficou em 29%, uma queda em relação aos 31% do 4T21 e abaixo dos 34% esperados pelo JP Morgan – para os analistas do banco, a XP agora tem que focar na lucratividade, com maior disciplina de custos para suportar as margens.

O lucro no trimestre ficou em R$ 1 bi, um resultado estável na comparação anual e com alta de 6% em relação ao trimestre anterior.  O EBITDA caiu 2% para R$ 1,2 bi.

A receita do varejo foi um destaque positivo. Atingiu R$ 2,7 bi – alta de 15% no trimestre – com a empresa vendo uma demanda maior por produtos de renda fixa além de melhores float e taxas de performance.

A queda de hoje vem depois do papel passar por um rally recente: um ganho de 28% em 30 dias. Mesmo depois dessa valorização, até ontem o papel caía 18% no ano, com a ação negociando a 13,3x o lucro estimado para o ano que vem.

“Definitivamente não está cara,” escreveu Eduardo Rosman, no BTG.

O papel ainda sofre o overhang de potenciais vendas pelo Itaú e Itaúsa (que concentram cerca de 20% do capital) e de um debate mais intenso sobre a mudança do business de ‘crescimento’ para ‘valor’.

“Nossa percepção de que a XP está se tornando um negócio mais intensivo em capital parece estar ganhando força”, escreveu o time do BTG. “Quando olhamos para a posição de caixa, parece que a XP não gerou muito resultado caixa no primeiro semestre.”

Para o Credit Suisse, o nível de geração de FCF (fluxo de caixa livre) da XP continuou “sem muito brilho” com a conversão de FCF em EBITDA de apenas 49% no primeiro semestre.

“A XP precisa reter mais capital para operar o seu negócio; seja porque está tendo que ‘adquirir’ agentes autônomos, seja porque precisa usar mais caixa para operar com clientes,” disse um gestor. “O fato é que, se gera menos caixa, os retornos tendem a cair. E se isso acontecer, o múltiplo que a companhia negocia deveria ser mais baixo.”

O CFO Bruno Constantino disse ao Brazil Journal que o trimestre foi marcado por eventos relevantes que consumiram boa parte do caixa da empresa.

A XP gastou cerca de R$ 250 milhões com recompra de ações – uma linha de que deve continuar aparecendo nos resultados, já que o programa aprovado é de até R$ 1 bi.

Além disso, fez o último pagamento, de R$ 180 milhões, de uma debênture que venceu em maio; e pagou juros semestrais de R$ 100 milhões de um bond.

Entre capex e M&As (compra de participações em outras empresas), gastou mais R$ 100 milhões. E outros R$ 200 milhões foram em contratos de longo prazo fechados com novos escritórios de agentes autônomos – no trimestre passado, a XP não teve esse tipo de gasto.

Segundo Bruno, a XP já celebrou a maior parte dos contratos desse tipo que precisava, e não espera novos volumes muito relevantes; a empresa continua avaliando negócios caso a caso.

Segundo o CFO, a alta nos custos e despesas tem a ver com o crescimento futuro e sustentável do negócio. “Tomamos  a decisão de crescer organicamente alguns negócios em vez de fazer M&A. Isso significa que temos um custo inicial maior, por exemplo com pessoas e sistemas, e que as receitas, que vão pagar o custo dos investimento, virão depois,” disse.

Por exemplo, na conta internacional de investimentos e na bolsa de ativos digitais – dois em novos negócios anunciados recentemente – os investimentos foram da ordem de R$ 500 milhões e, ainda assim, segundo o CFO, a XP manteve sua margem líquida ajustada acima do topo do guidance de longo prazo (30%).

“Nós continuamos sendo ‘asset light’, mas o negócio de plataforma sofre mais no bear market. Independentemente disso, a XP bateu recorde de receitas graças a seu poder de diversificação e de criar novos negócios,” disse Bruno.

O CFO também disse que, entre os novos negócios, o cartão de crédito consome um pouco mais de capital, mas o crédito pessoal consome pouco, porque é colateralizado.