Enquanto o mercado focava há meses na oferta do Apollo pela Braskem, a Unipar corria por fora e desenhava uma proposta de R$ 10 bilhões que foi bem recebida pela família Odebrecht e seus bancos credores.
A oferta non-binding, revelada sábado à noite, avalia as ações da Braskem – que garantem a dívida da Novonor com os bancos – ao redor de R$ 35, segundo credores brifados sobre a proposta.
Por ser 100% em dinheiro, a proposta é superior aos R$ 47/ação oferecidos pela Apollo e a Abu Dhabi National Oil Co. Como mostramos aqui, R$ 20/ação daquela proposta eram na forma de um título perpétuo que pagava 4% ao ano, e outros R$ 7,14 na forma de warrants.
Se for aceita, a proposta da Unipar colocará um operador histórico da petroquímica no comando do maior ativo da América do Sul – num momento de spreads petroquímicos em queda e alavancagem em alta.
A Unipar vale R$ 7,4 bilhões na Bolsa e fez R$ 2,6 bilhões de EBITDA no ano passado – o maior da história da companhia. A companhia tem um caixa bruto de R$ 1,4 bi e dívida líquida zerada.
Já a Braskem fez um EBITDA de R$ 10,6 bilhões e tem uma dívida líquida de US$ 4,8 bilhões, ou 3,8x sua geração de caixa.
A oferta da Unipar é válida por 30 dias e está sujeita ao aceite formal das partes e a uma due diligence ambiental, particularmente em Alagoas, a grande incógnita do valor da Braskem depois do acidente envolvendo a operação de sal-gema da empresa no Estado.
Pelos termos da proposta, a Unipar fará um aumento de capital na NSPInv, a holding intermediária pela qual a Novonor controla a Braskem. Logo em seguida, esta holding usa os recursos para quitar a dívida com os bancos.
Como os R$ 10 bilhões ofertados pela fatia da Novonor são inferiores aos R$ 15 bilhões da dívida com os bancos, o haircut implícito é de 33,3%. No que talvez seja o maior diferencial da estrutura, a Unipar propôs que qualquer haircut adicional aceito pelos bancos reverta a favor da família Odebrecht, que poderá continuar como acionista minoritária do ativo.
Segundo credores e a própria Unipar, em vez de maximizar valor para um dos lados – a família ou os bancos – a proposta tenta criar um equilíbrio entre todos os envolvidos como forma de encerrar um impasse que já dura cinco anos.
Por meio de seus portavozes, a Unipar tem dito que sua proposta é “associativa” porque busca uma “solução de convergência” naquela que é a joia da coroa da petroquímica brasileira. Refletindo esse espírito, o projeto foi batizado internamente de “Amálgama.”
A transação é transformacional para a Unipar, que foi a maior petroquímica brasileira entre as décadas de 60 e 90 antes de uma sucessão familiar turbulenta forçá-la a reduzir de tamanho.
As conversas entre a Unipar e os Odebrecht começaram há um ano e meio – com o controlador da Unipar, Frank Geyer Abubakir, e a família unidos pelo tema comum de manter a companhia sob controle brasileiro.
No início do mês, a família deu sinal verde quanto ao preço. Na semana passada a Unipar visitou todos os bancos credores – Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e BNDES – mostrando as linhas gerais da proposta.
Ao longo de todo o processo, a Unipar também tem mantido conversas com a Petrobras, dona de 36% do capital total da Braskem e sua fornecedora de matéria-prima.
Uma condição sine qua non da oferta é a celebração de um acordo entre a Braskem e o Governo de Alagoas, de forma a quantificar o passivo ambiental remanescente. (Os esforços anteriores da Braskem estavam focados num acordo com a Prefeitura de Maceió.)
A BR Partners está assessorando a Unipar.