A renúncia de Amos Genish pegou os analistas que cobrem a Telefonica de calças curtas: 65% deles tinham recomendação de compra para o papel.

Com a saída-surpresa do CEO, anunciada ontem à noite, a Vivo tem passado a maior parte do pregão em queda de cerca de 7%, na contramão do Ibovespa.

Às 14 horas, o volume negociado chegava a sete vezes o volume médio do papel.
 
Curiosamente, o sellside não está dando o braço a torcer com o fim da narrativa “empreendedor com histórico de sucesso fará revolução cultural em empresa incumbente” — que até ontem era 80% do motivo citado por eles para convencer os clientes a comprar a ação.
 
Em vez disso, estão focando no copo meio cheio e dizendo que a queda é um ‘buy opportunity’.  Os argumentos para o otimismo variam, desde o ambiente de menor concorrência no setor, tendo em vista os problemas dos concorrentes, até a cultura já implantada por Amos, que poderia sobreviver à sua partida.
 
“Isso mostra que o sellside trabalha para as empresas, e não para os investidores, porque o melhor cliente é aquele paga mais fees [comissões],” diz um gestor. “Ninguém quer explodir a ponte com o novo management, que vai ser responsável por contratar advisors, market makers, cash management..”

Por enquanto, só o Bradesco teve a coragem (ou coerência) de dar downgrade na ação, de ‘compra’ para ‘manutenção’. Para o analista Fred Mendes, a saída do CEO pode comprometer a captura de sinergias com a compra da GVT e piorar a alocação de capex (investimentos) da Vivo.

Ele cita um exemplo eloquente: lá atrás, a expectativa era de que a integração entre a Vivo e a Telefonica gerasse sinergias entre € 2,3 bilhões e € 2,7 bilhões a valores presentes na época da fusão, por conta de integração tecnológica e oferta de serviços “quadriplay” (banda larga, telefone móvel, fixo e TV).

As dificuldades de integração geraram o efeito contrário: a margem operacional caiu de 36% em 2010 para 30% em 2014, num momento em que a economia ainda ia bem. “Esses projetos só começaram a render frutos sob a administração de Amos”, Mendes escreveu em seu relatório.

Na integração com a GVT, ao contrário, as sinergias, inicialmente estimadas em R$ 14 bilhões, foram revistas pela própria empresa para R$ 25 bilhões, dos quais 50% já se materializaram.

 
Agora, os investidores se preocupam com os outros R$12,5 bilhões — que representam 14% do preço-alvo do Bradesco para o papel.
 
Com a Vivo em queda de 7%, o mercado parece concordar com Mendes:  agora que o maestro da integração deixou a orquestra, será que a música vai parar?