A região de Vuelta Abajo, em Cuba, está para o mundo dos charutos como Bordeaux ou a Borgonha estão para o universo dos vinhos. Mas, em outro paralelo com os franceses, o predomínio cubano também vem sendo desafiado há alguns anos por produtores de diversos países, especialmente dos vizinhos República Dominicana e Nicarágua.

 
Agora, charutos premium brasileiros tambem estão chegando ao mercado, com alta qualidade e capazes de agradar os apreciadores mais exigentes.
 
Apesar de ter séculos de história no Recôncavo Baiano e exportar tabaco para o blend (a mistura de tabacos) de alguns dos melhores charutos do mundo, os produtores brasileiros eram conhecidos nas últimas décadas por seus puros baratos e de má qualidade. Sem capacidade de competir com cubanos e dominicanos, várias fábricas extremamente tradicionais fecharam as portas na Bahia.
 
Mas o cenário começou a mudar há alguns anos, com a reabertura de fábricas e o lançamento de novas linhas de charutos, com qualidade premium, bem construídos e embalados de forma caprichada. A maior parte deles feita com tabaco da região conhecida como Mata Fina, a “nossa Vuelta Abajo”, cuja produção é considerada suave, adocicada e altamente aromática.
 
O resultado é que o consumidor brasileiro começou a ter acesso a produtos nacionais de excelente relação custo-benefício, especialmente nestes tempos de dólar acima de R$ 5.
 
Um dos protagonistas desse risorgimento é a Menendez e Amerino, uma das principais fábricas do Recôncavo. A empresa tem história e tradição – ela é resultado de uma associação entre brasileiros e os filhos do famoso Alonso Menendez, criador da marca cubana Montecristo. Exilados após a Revolução, eles se estabeleceram primeiro nas Ilhas Canárias e depois vieram para o Brasil.
 
A Menendez e Amerino iniciou todo esse processo com o lançamento das linhas Dona Flor e Alonso Menendez, que já se destacavam no cenário nacional mas ainda não empolgavam. Tudo mudou com a chegada ao mercado em 2018 da linha Alonso Menendez Del Patrón, um charuto encorpado feito com um blend de tabacos Mata Fina e Mata Norte.
 
Se você só fuma charutos cubanos e está duvidando desta história, segue uma dica:  vença o preconceito e prove um Alonso Menendez Del Patrón Gran Corona ou Robusto. São charutos bem construídos, saborosos e com ótimo fluxo. E o melhor é que o Robusto está na casa dos R$ 30.
 
Outro destaque são os charutos da Dannemann, uma marca histórica. Principalmente, na minha opinião, os puros de tabaco Mata Fina e capa escura, extremamente saborosos. Um Robusto Mata Fina sai por cerca de R$ 50 e é um charuto de alta qualidade.
 
Para quem quiser investir um pouco mais, a Dannemann oferece ainda a linha premium Elementum, que traz inclusive a identificação da safra com que os charutos foram produzidos. Ela foi lançada no Festival Origem, um evento anual que reúne os produtores de tabaco, café, cachaça etc do Recôncavo. É, seguramente, um dos melhores charutos brasileiros.
 
Por fim, outro que me agradou muito é o Gordito, da Leite e Alves, fábrica centenária do Recôncavo Baiano. Seguindo uma tendência mundial de valorizar puros curtos e de bitola mais larga — que proporcionam uma fumada rápida, mas intensa — o Gordito possui fortaleza média e é muito agradável.
 
Há diversas outras marcas brasileiras que começam a se destacar por seus produtos de qualidade, que ressaltam as características do tabaco do Recôncavo, reconhecido internacionalmente há décadas. A beleza do processo é visitar a tabacaria de sua preferência (ou navegar online) para pesquisar e encontrar os charutos que mais lhe agradam.
 
Mesmo que ainda não se comparem a um Cohiba Behike 54 ou a um Davidoff Winston Churchill, os puros brasileiros avançaram muito e já são, sim, uma alternativa interessante para todos os tipos de consumidor. 

 
Flávio Ribeiro de Castro é jornalista e ama comida, vinhos e charutos.