A Viacom — empresa americana de mídia dona da MTV, Nickelodeon, e Comedy Central — anunciou hoje a compra da uma fatia majoritária no Porta dos Fundos, responsável por um dos canais de maior audiência do YouTube e um dos casos mais bem sucedidos de monetização na internet brasileira.

Nem o valor nem o tamanho da participação foram revelados, mas o contrato dá à Viacom a opção de aumentar sua participação no futuro.  Um dos investidores originais do Porta é o empresário Luciano Huck.

A aquisição ressalta a busca de grandes empresas de mídia por conteúdo independente e é a primeira envolvendo um grande canal brasileiro do YouTube, mas vem numa época em que o Porta dos Fundos parece ter perdido o caráter de novidade que lhe conferia apelo até pouco tempo atrás. 

No YouTube, o canal tem mais de 13 milhões de inscritos, e seus 1,8 mil vídeos já foram vistos mais de 3 bilhões de vezes. 

Até o ano passado, era o canal com o maior número de assinantes do YouTube no Brasil, mas foi ultrapassado recentemente pelo piauiense Whindersson Nunes, de 22 anos, que já tem mais de 19 milhões de seguidores.

Nos últimos meses, vários membros do cast e da direção do Porta dos Fundos deixaram o grupo, incluindo os atores Rafael Infante e Clarice Falcão; o diretor e roteirista Ian SBF, e o diretor Rodrigo Magal, o “Magalzão”.

Além do canal do YouTube, o Porta vem tentando se consolidar nos últimos anos como um produtor de conteúdo multiplataforma, com produção de seriados para TV — veiculados pela Fox — e longa-metragens. 

Mas a incursão no cinema não teve o sucesso esperado.  O longa “Contrato Vitalício”, lançado em julho do ano passado com grande alarde e verba de divulgação, vendeu 460 mil ingressos. A produção esperava o dobro. O filme ficou apenas três semanas em cartaz, contra uma previsão inicial de ao menos dois meses. 

No mercado, especula-se que a Viacom pode estar interessada em turbinar a audiência do Comedy Central, que nunca chegou a engrenar no Brasil.

“Acreditamos fortemente que propriedade de conteúdo é um fator chave para o sucesso e estamos felizes em adicionar mais essa nova dimensão ao nosso portfólio”, disse Pierluigi Gazzolo, presidente da Viacom América.

“A sociedade é um grande passo para o grupo se expandir no mercado internacional, com novas oportunidades globais para o nosso portfólio tanto online quanto offline. Além disso, o acordo prevê uma distribuição excepcional de nossos conteúdos”, disse Tereza Gonzalez, CEO do Porta dos Fundos.

Um canal de Youtube como o Porta ganha dinheiro de duas formas. Uma delas é a publicidade que vem pelo Google, que divide com o produtor do conteúdo a receita dos anúncios que aparecem antes e durante os vídeos.  A outra são conteúdos patrocinados e merchandising de produtos. Além do canal no YouTube, o Porta dos Fundos possui ainda uma linha de produtos licenciados, aplicativos, games, séries de TV e filmes.

O faturamento do Porta não é aberto, mas estimativas de mercado colocavam o número entre R$ 30 milhões e R$ 40 milhões em 2015.

A Viacom não é o primeiro grupo internacional a comprar produtoras de conteúdo digital no Brasil. O Webedia, que tem como controlador o grupo Fimalac – holding do bilionário francês Marc de Lacharrière – tem sido ativa em aquisições no país.

Seu foco são sites de tráfego pesado, que aparecem entre as principais sugestões do Google para assuntos que envolvem entretenimento e lifestyle. Em 2013, a Webedia comprou o site AdoroCinema; em 2014, o Tudo Gosto, de receitas; e, no ano seguinte, a Paramaker, que gerencia mais de 5 mil canais e oferece suporte e consultoria para novos youtubers. No mês passado, levou o portal de saúde Minha Vida, que tem 14,3 milhões de visitantes únicos/mês.

A Viacom parece estar mesmo sintonizada na América do Sul.  Em novembro, comprou a Telefé, uma das principais emissoras de TV da Argentina, por €345 milhões.