Em uma nova rodada de ações de incentivos para a economia, a China flexibilizou regras para a compra de imóveis em três das maiores cidades do país – fazendo disparar o preço do minério de ferro e levando a bolsa de Xangai a ter seu maior rali em 16 anos.

Por muitos anos, apenas os moradores locais eram autorizados a comprar residências nessas metrópoles, uma restrição para impedir a especulação imobiliária.

A partir de agora, não haverá mais nenhuma barreira do tipo em Guangzhou, e não haverá limite para o número de imóveis que as pessoas possam comprar. Xangai e Shenzen também relaxaram suas legislações.

Na semana passada, a China já havia anunciado um corte de juros e a diminuição das reservas de capital exigidas dos bancos – bem como uma série de medidas para estimular a economia doméstica e conter o colapso do setor imobiliário. O governo persegue a meta de entrar um crescimento de 5% do PIB.

Ontem o People’s Bank of China, o BC do país, anunciou que a partir de 1º de novembro será possível refinanciar as hipotecas, abrindo a possibilidade para a renegociação dos juros dos financiamentos imobiliários.

O valor mínimo da entrada à vista para a compra de residências caiu de 20% para 15%.

A Bolsa está respondendo às medidas. Depois de mergulhar ao nível mais baixo em cinco anos, o mercado acionário chinês acumula altas seguidas nos últimos dias.

O índice CSI 300, das principais ações listadas em Xangai, subiu 8% hoje, a maior valorização diária desde 2008. No mês, a alta é de 18%.

O UBS Wealth Management disse num relatório que a grande questão agora é se a retomada terá sustentação.

“Os investidores que estão considerando uma exposição à China precisam saber que o escopo, a escala e a implementação dos estímulos ainda são incertos – e, do ponto de vista do crescimento econômico, uma recuperação dos fundamentos exigirá provavelmente mais incentivos para o setor imobiliário,” diz o banco.

Segundo os analistas do UBS, há agora um sentimento maior de confiança entre os investidores porque as instituições chinesas de regulação do mercado têm demonstrado disposição de agir de maneira mais articulada.

“Estamos mais otimistas do que estávamos no início da semana passada por causa da maior determinação e melhor coordenação das políticas, mas a trajetória adiante dependerá do tamanho do estímulo fiscal e sua execução,” escreveram os analistas.   

Para o Bank of America, “a melhora na comunicação das políticas talvez tenha impressionado mais do que as medidas em si,” escreveu Helen Qiao, a economista do BofA para a Ásia.

Os novos incentivos fizeram o minério de ferro disparar mais de 11% hoje, com a tonelada voltando a ficar acima de US$ 110 pela primeira vez desde julho – embora ainda distantes dos US$ 140 de janeiro.

Na semana passada o minério, que é uma das commodities de pior performance no ano, já havia subido mais de 10%.

A alta ajudou na recuperação dos papéis da Vale, que subiram 8% nos últimos cinco pregões. No ano, contudo, a ação ainda amarga perda de 16%.

A desaceleração do mercado imobiliário tem arruinado as siderúrgicas chinesas. Três quartos delas tiveram prejuízos no primeiro semestre, e algumas delas podem entrar em falência ou serem compradas, segundo a Bloomberg Intelligence.

De acordo com a analista Michelle Leung, deverá haver um movimento de consolidação incentivado pelo governo. As cinco maiores deverão controlar 40% do mercado até o final de 2025, e as dez maiores deverão ter uma participação de 60%.

Diante do tombo nas vendas internas, as chinesas ampliaram as exportações, mas enfrentam crescentes barreiras antidumping em alguns mercados.

A crise na indústria siderúrgica chinesa é tida como mais profunda e duradoura do que as retrações ocorridas em 2008 e 2015.

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