Depois de massacrar a ação da Vale (em queda de 60% nos últimos 5 anos) e seu dividendo (eliminado este ano), o preço do minério de ferro causou outra baixa na mineradora:  o diretor de suprimentos, Marcos Saraiva, pediu demissão semana passada, depois de oito anos e meio na companhia.

O motivo do adeus, segundo pessoas próximas a ele:  o custo de oportunidade de trabalhar numa empresa cuja compensação variável está deprimida em função do preço atual do minério de ferro.

Como ‘global chief procurement officer’, Saraiva era responsável por lidar com todos os grandes fornecedores da Vale ao redor do mundo, à frente de um time de 400 pessoas e um orçamento de cerca de US$ 13 bilhões.

Elogiado pelos colegas, ele ajudou a Vale a apertar o cinto e reduzir custos nos últimos anos, e era tido como uma liderança promissora da companhia.

Em 2015, Saraiva liderou projetos que economizaram US$ 1,5 bilhão para a Vale, entre redução de custos, benefícios fiscais e ‘cost avoidance’.  Entre 2010 e 2015, essas economias chegaram a US$ 3,3 bilhões.

Alguns casos que ilustram como Saraiva lidava com custos:

1) Ao comprar um trator Caterpillar, a Vale tem por política comprar peças sobressalentes para agilizar a troca.  Mas em vez de comprar as peças da própria Caterpillar, Saraiva passou a ir direto nos fornecedores da empresa, onde pagava 30% a menos pela mesma peça.

2) Saraiva descobriu que era possível comprar tratores chineses por um terço do preço cobrado pela Caterpillar. Mas decidiu que esta seria uma ‘economia burra’, dada a rapidez e o nível do atendimento da Caterpillar no pós-venda.

3) Os ônibus da Vale costumavam pegar os funcionários em casa para levá-los ao trabalho e faziam o trajeto inverso no fim do dia, exigindo inúmeras paradas.  Saraiva manteve o ônibus como comodidade, mas criou pontos fixos ao longo da rota onde os funcionários agora pegam o transporte, acabando com o ‘home delivery.’

4) Finalmente, Saraiva reduziu as compras de comida para os refeitórios das operações da Vale ao descobrir que toneladas de alimentos eram jogadas fora todos os dias.  

Saraiva inovou ao fazer a área de ‘procurement’ da Vale trabalhar em colaboração com — e não em oposição a — seus fornecedores para descobrir formas de eliminar o desperdício da cadeia de suprimentos e gerar valor para a companhia.  

Na hora de cortar custos, buscou preservar os ‘fornecedores vitais’ para evitar que uma eventual quebra destes acabasse aumentando os custos para a companhia no futuro, e incentivou o desenvolvimento de fornecedores alternativos para produtos e serviços de grande especificidade, evitando que a empresa ficasse refém de fornecedores especializados.

Saraiva se reportava ao CFO da Vale, mas lidava diretamente com o CEO Murilo Ferreira.