Quando trabalhava na aviação comercial, Kleber Linhares liderou a integração tecnológica de duas fusões delicadas: a da Gol com a Varig, em 2007, e da Azul com a Trip, cinco anos depois.

Agora, como o chief technology officer de uma das maiores empresas de saúde do País, ele está enfrentando um desafio ainda mais complexo: unificar os sistemas da Hapvida e da Intermédica. 

“Essa é – de longe – a fusão mais complexa das três, pela importância da nossa missão, o número de pessoas envolvidas e o modelo verticalizado,” Kleber disse ao Brazil Journal. “Fazer essa integração funcionar é essencial para o sucesso da empresa.”

Carioca, fanático pelo Flamengo e radicado em São Paulo há 20 anos, Kleber entrou na Hapvida há dois anos, depois de 13 na Azul, que ajudou a fundar, e três na Gol. 

Kleber LinharesÀ frente de uma equipe de mais de mil pessoas – concentradas principalmente em Fortaleza e São Paulo – é ele que está liderando toda a padronização tecnológica das duas empresas de forma a colher as centenas de milhões de reais em sinergias que a empresa sinalizou, e que o mercado espera. 

Naturalmente, essa integração passa por diversas áreas da companhia, mas “a tecnologia é a espinha dorsal,” disse ele. “A adaptação de pessoas e de produtos também é muito importante, mas o que vai gerar a mudança do negócio é o processo. E o processo é intrínseco à plataforma sistêmica que você vai implantar.” 

Kleber está correndo contra o tempo. A Hapvida prometeu ao mercado finalizar toda a integração até abril — faltam só sete meses.

A companhia já finalizou a implementação dos sistemas da Hapvida em alguns estados-chave da Intermédica, como o Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio de Janeiro. Agora, está trabalhando em Minas Gerais, cujo processo deve ser finalizado ainda este ano. 

Já os primeiros meses do ano que vem devem ser dedicados inteiramente a São Paulo — o maior e mais desafiador dos mercados da companhia, com 20 hospitais, mais de 3 milhões de beneficiários, e milhares de funcionários. 

“Isso aqui é que nem judô: você não vai ganhar uma faixa preta com só três meses de treino,” disse Kleber, que pratica o esporte desde criança. “Tudo que fizemos até agora deixou a gente mais preparado e mais maduro. Se tivéssemos que enfrentar São Paulo nos primeiros meses da integração, provavelmente ia dar errado. Mas estamos chegando muito mais preparados e com os aprendizados dos estados anteriores.”

Assim que entrou na Hapvida, Kleber dedicou seu primeiro ano a fazer um upgrade na plataforma tecnológica – ou, em suas palavras, “fazer um retrofit do código, limpando coisas antigas,” e deixando a plataforma preparada para qualquer expansão que viesse depois. 

“Foi uma pauta de higienização, de ajustar a casa,” disse ele.

Essa melhoria já gerou impactos importantes na operação, segundo ele. “Saímos de 25% para 63% das consultas marcadas pelo app. A telemedicina também saltou de 20 a 30 mil consultas por mês para mais de 400 mil.”

Em seu segundo ano, com a casa já arrumada, Kleber passou a focar na pauta de integração.

A primeira decisão foi muito pragmática: qual das duas plataformas seria usada como base? 

Havia uma diferença fundamental entre elas. Enquanto a Hapvida usava um sistema proprietário, desenvolvido in house, a Intermédica operava basicamente com sistemas de terceiros. 

Para fundamentar a decisão, a Hapvida contratou duas consultorias que passaram três meses analisando e comparando os dois sistemas — até decidirem por manter a plataforma da Hapvida, um caminho endossado por Kleber.

“Se a gente trabalhasse apenas com hospitais, talvez eu fosse pelo outro caminho, porque já existem muitos sistemas de terceiros que funcionam muito bem para isso. Além disso, qualquer operador ou médico já conhece bem um ERP da Oracle ou da SAP, por exemplo,” disse ele. 

“Mas no modelo verticalizado é diferente. A fluidez dos dados entre a operadora e os hospitais é fundamental, e com o controle da plataforma na sua mão você tem mais capacidade de adequação, de mudar as coisas mais rápido.”

Tomada a decisão, a Hapvida passou à fase da execução — implementando e adaptando esse sistema para todas as regiões em que a Intermédica operava. 

Parece simples, mas os desafios são gigantescos, segundo Kleber.

“É uma virada brutal,” disse ele. “Imagina que você está trabalhando há cinco, seis anos de uma forma e a partir do dia seguinte muda tudo. Precisamos garantir que isso aconteça sem nenhum atrito e interferência no dia a dia,” disse ele. 

Outro desafio é o da comunicação, mostrando a todos os envolvidos (funcionários e médicos parceiros) os ganhos que as mudanças vão trazer, e engajando-os na transição. 

Kleber disse estar convicto de que a Hapvida conseguirá finalizar a integração no prazo — e já está pensando no próximo desafio. 

Terminado esse processo, ele disse que vê espaço para uma agenda relevante de evolução do uso da tecnologia no negócio da empresa — ampliando muito o uso de inteligência artificial e trabalhando melhor a base de dados da gigante de saúde. 

“Com os dados que temos, há muitas oportunidades para modelagens novas e para criar novos produtos,” disse. “Temos uma mina de ouro nas mãos!”