Os fundos multimercados brasileiros deslancharam nos últimos anos com uma fórmula matadora: comprados na Bolsa e vendidos nos juros.
Mas como esse ‘crowded trade’ é comum a quase todos os grandes gestores, o resultado é uma alta correlação entre os fundos: quando o mercado vai a favor, todos performam, e quando vem o revertério… “Foi um prazer perder dinheiro com vocês, senhores!”
Com family offices e investidores institucionais cada vez mais tentando fugir dessa armadilha, um ex-trader do Morgan Stanley e dois ex-sócios da XP estão abrindo um novo hedge fund cuja maior expertise é o trading de opções e derivativos no mercado internacional.
A Upon Global Capital pretende alcançar R$ 3 bilhões sob gestão no final do primeiro ano, com uma captação inicialmente focada em family offices.
O chief investment officer da Upon é Thiago Melzer, o ex-head global de opções de moedas e head de mercados emergentes para Américas do Morgan Stanley.
“A triste realidade dos fundos brasileiros é que alguns ficaram tão grandes que simplesmente pararam de performar”, diz Melzer. “O mercado brasileiro é estruturalmente pequeno, de forma que para continuar a crescer, a única saída para os hedge funds vai ser operar globalmente.”
Alguns gestores já criaram operações fora do País, mas “o gestor brasileiro, quando opera lá fora, vai com a cabeça de quem opera Brasil, por isso acaba não dando muito certo”, diz o CIO.
A Upon acha que vai conseguir evitar esse mindset por ter reunido uma equipe experiente em derivativos e opções no mercado global — e que conhece as especificidades de cada mercado.
Pedro Silveira, o ex-sócio da XP que montou a operação offshore da corretora, é sócio-fundador e o chief strategy officer da Upon, responsável pelas áreas comercial e de marketing.
O terceiro fundador é Fábio Isaack, um veterano com quase 30 anos de mercado que foi responsável pela mesa institucional da XP. Pedro e Fábio trabalham juntos desde 2008, quando se conheceram na corretora Liquidez, mais tarde comprada pela BGC. Melzer era cliente deles.
A Upon está se espelhando no modelo bem-sucedido de gestoras como a Rokos e a Eisler Capital, ambas de Londres, e a Element Capital, de Nova York.
“Todos os CIOs desses fundos têm backgrounds de derivativos, o que abre a porta para você expressar melhor as suas apostas,” diz Melzer. “Esses fundos continuam crescendo e performando, uma realidade bem diferente dos hedge funds brasileiros.”
Melzer começou sua carreira no Santander trabalhando nos times de Mario Torós e Roberto Campos Neto. Saiu de lá para montar a mesa de opções de juros e moedas do Morgan Stanley em São Paulo, um cargo que serviu de trampolim para papéis ainda mais sêniores em Nova York e Londres.
No final de 2019, o Morgan Stanley o afastou de suas funções alegando um problema com a marcação a mercado de algumas posições ilíquidas. Após um ano e meio de investigações, o banco enviou um relatório final para a Finra — a autoridade autorregulatória da indústria financeira nos EUA. Melzer não foi multado, processado, nem impedido de exercer a profissão.
A Upon começa com uma equipe de oito pessoas, divididas entre São Paulo e Nova York, de onde Thiago comandará o time.
O chief risk officer é Marcos Carreira, que comandou a área de risco do Credit Suisse Brasil e foi diretor de modelagem técnica da BM&F Bovespa. Marcos, que está terminando um PhD na França, é o autor do livro “Brazilian Derivatives and Securities”, uma referência no assunto.
No Brasil, o principal PM será Ricardo Novaes, ex-Kapitalo, Kadima e Brookfield. A equipe se completa com Antonio Andrade, especialista em opções de moedas, que deixou recentemente a Legacy Capital e também trabalhou no Morgan Stanley, além de dois colegas de turma de Melzer nos tempos de ITA: André Ventura, ex-Polo e um dos fundadores da Murano Investimentos; e Daniel Saraiva, também ex-XP. Ambos focarão em estratégias quantitativas e arbitragem.
A cota zero — o início oficial do fundo — está marcada para 29 de outubro.