OSASCO, São Paulo — Quando viu que o filho de 15 anos estava jogando muito futebol, Octavio de Lazari quis tirar o moleque daquele rumo.  Intercedeu junto ao gerente de uma agência do Bradesco onde tinha conta, e descolou uma vaga de contínuo para o Júnior.

Trinta e nove anos depois, Octavio de Lazari Júnior foi escolhido hoje como o próximo presidente do banco — apenas o quinto homem a comandar uma das maiores instituições do País em 73 anos de história.

10409 bd39d84e 5abf 0000 0030 25f9447ac2fbLuiz Carlos Trabuco disse que a escolha de Lazari – cujo nome não estava entre os favoritos — foi baseada em sua experiência. De seu começo na agência 55, na Lapa, Zona Oeste de São Paulo, até o comando do banco, Lazari foi caixa, supervisor e gerente de diversas agências.

Passou a trabalhar na Cidade de Deus em 1998, no departamento de crédito da matriz. Pouco mais de dez anos depois, já sob o comando de Trabuco, subiu para a diretora executiva, onde passou pelas áreas de produtos e serviços, cash management e liderou toda a rede de varejo do banco – tornando-se célebre pelos discursos motivacionais proferidos em eventos para o exército de gerentes. Em maio do ano passado, foi alçado a uma das vice-presidências do banco e assumiu o Grupo Bradesco Seguros, substituindo Marco Antonio Rossi, tido como favorito para a sucessão de Trabuco e vitimado por um acidente áereo.

“Em janeiro, o Octavio foi adquirindo o consenso do conselho de administração, dos atuais conselheiros e do seu Brandão, para que nós fizéssemos a escolha”, disse Trabuco. “E aí pesaram duas coisas: a experiência, extremamente horizontalizada, e as condições de manter o grupo todo alinhado.”

Além do próprio Lazari e de Trabuco, a coletiva de imprensa também contou com a presença de Lázaro Brandão – que, apesar de ter deixado a presidência do conselho no fim do ano passado, mantém o cargo de presidente do conselho das empresas do grupo controlador do banco e segue dando expediente na Cidade de Deus.

Com 54 anos, Lazari é um dos vice-presidentes mais jovens da casa. É casado há 30 anos e tem dois filhos já adultos, que passaram longe da carreira bancária: Renan, o mais velho, trabalha com publicidade e cinema, e Carolina, com moda. É palmeirense: jogava na categoria de base do time, como meio de campo, antes do pai lhe arrumar o emprego da vida.

De fala clara e direta, na primeira manifestação após o anúncio de seu nome, Lazari disse que sua prioridade é ampliar as receitas do banco para sustentar as taxas de retorno – de forma orgânica e sem aquisições.

“Vai ter um desafio muito grande, com redução de taxa de juros — de 14% para 7% e devemos ter mais uma — os spreads vão se achatar… Qual é a alternativa? Ganhar escala”, disse. “E ganhar escala é em todos os sentidos, não tem bala de prata: aumentar o número de correntistas, ter maior escala de crédito, penetração de serviços, cartão de crédito”.

10197 8d89dc39 024a 1102 0003 66a41c8f552fLazari disse que em janeiro o banco já notou que o volume de crédito melhorou em relação a dezembro e que “o natural” é que as empresas voltem a investir este ano.

“O crescimento do crédito não vem de uma linha específica,” disse. “É natural que no começo seja mais de capital de giro que de investimento, mas é inevitável que as linhas de crescimento venham do capital de giro, crédito rural, credito imobiliário, que não paramos de fazer.”

O executivo destacou o papel da tecnologia e das plataformas digitais no banco, mas não descartou a importância da rede de agências.

“O banco teve muita sabedoria quando trabalhou o Next [seu banco digital] para clientes que preferem outro tipo de relacionamento. Mas o banco soube entender que atendemos quatro gerações distintas e soube desenvolver plataformas para atender a todos esses clientes”, disse.

“Muito mais que reduzir o número de agências, há espaço para reduzir o tamanho físico de agências. Conseguimos fazer bem o atendimento ao cliente em 300 metros quadrados, não precisamos de 2 mil metros quadrados”, disse. “Mas pode ter certeza que nossa rede é uma vantagem competitiva”.

Com a escolha do executivo ainda fresca – a reunião do conselho que formalizou a indicação aconteceu hoje de manhã — Lazari vai acumular temporariamente a presidência da Bradesco Seguros. A decisão sobre seu substituto deve sair até o fim de março. 

Além do anúncio do novo CEO, o Bradesco também anunciou que quatro vice-presidentes passarão a ocupar assentos no conselho de administração: Domingos de Abreu, que responde por tesouraria e crédito; Alexandre Glüher, o ‘chief risk officer’; Josué Pancini, responsável pela rede de atendimento e pelo Prime; e Maurício Minas, de tecnologia e inovação (que era tido como favorito para a sucessão de Trabuco na bolsa de apostas). Como há uma regra que estabelece que apenas um terço dos nove membros do conselho podem ter funções executivas, pelo menos um deles deve abdicar da diretoria.  Caberá a Lazari, nos próximos meses, definir o organograma de VPs. 

Na assembleia que vai ratificar a nomeação de Lazari, no dia 12, a diretoria também vai encaminhar uma proposta para uniformizar a idade mínima pra todos os cargos de direção. Para permitir que Trabuco ficasse no cargo de CEO, esse limite havia subido de 65 para 67 anos. Agora, deve voltar novamente para 65 anos para todos os membros da diretoria.

“Tenho 54, então ainda há bastante tempo para trabalhar”, brincou Lazari.