Apesar dos riscos políticos, a Bolsa brasileira tem três fatores jogando a seu favor: os múltiplos estão baixos, há um vento favorável no cenário internacional, e um fator técnico que pode desencadear uma alta no curto prazo.
É essa pelo menos a visão de Bruno Garcia, o sócio-fundador da Truxt Investimentos, uma gestora do Leblon com cerca de R$ 20 bilhões em ativos.
“Tem mais de 200 mil contratos vendidos em índice futuro e o mercado está pouco alocado, com os fundos long-only e long-biased com bastante caixa,” Bruno disse durante o Latin America Investment Conference, do Credit Suisse hoje em São Paulo. “Se tiver uma surpresa minimamente positiva pode ter uma mudança grande de preço.”
Ele lembra que as empresas ligadas ao setor doméstico performaram muito mal nos últimos meses. “É como uma mola que comprimiu absurdamente e qualquer melhora pode fazer ela subir muito rápido.”
Para expressar essa visão, Bruno está deixando a carteira “mais solta, andar mais livre, sem tanta proteção.”
No mesmo painel, Carlos Eduardo Rocha, o “Duda”, da Occam Capital, disse que também vê oportunidades no mercado, mas está focando em empresas que estejam protegidas de um cenário inflacionário e de juros altos.
“Achamos que os juros não caem este ano,” disse ele. “Na nossa projeção, a inflação está próxima do ano passado e com viés de alta. E com inflação de 6% a 7% não dá pra cair juros.”
Para ele, o governo tem dado sinais bem negativos e demonstrado que deve adotar um viés ainda mais à esquerda que nos governos anteriores de Lula.
“Vai ser um caminho muito tortuoso, de noite, com o farol ruim… Acho mais assertivo tentar ganhar de forma protegida do que de peito aberto,” disse o gestor.
Nesse cenário, a Occam acha que um porto seguro é a ação da Vale.“Ela está recomprando ações agressivamente e com sua própria geração de caixa. Isso é algo raro nas empresas, e hoje em dia ‘cash is king’ mais do que nunca,” disse. “Com o cenário de crédito difícil e juros altos, algumas empresas vão se ver em apuros.”
Sobre a situação da Americanas, Bruno disse que vê oportunidade na dívida da empresa.
Segundo ele, a Truxt comprou nos últimos dias um pouco de dívida distressed da Americanas que estava sendo negociada a R$ 0,13 no Brasil, um patamar que ele considera interessante “para colocar um pezinho.”
“Ano passado compramos bonds de empresas aéreas na covid a valores muito baixos e elas se pagaram. Compramos dívida argentina a R$ 0,19 e elas também se pagaram,” disse. Americanas, pensa a Truxt, não pode ser diferente.
Duda concordou que pode haver algum valor na dívida, e que “o equity não vale nada hoje, porque boa parte da dívida vai ter que ser convertida em equity.”
Os dois gestores também disseram estar otimistas com algumas commodities, em especial o petróleo. Duda disse que a Occam está comprada em petróleo e vendida em carvão, e tem feito isso por meio de empresas desses setores.
“Eu não acho que o petróleo necessariamente vai se valorizar, mas ele se mantém em um patamar alto, e contra o carvão fica favorável.”
Bruno também comprou petróleo motivado pela reabertura de China. “Commodities é um mercado complicado. Investimos poucas vezes nas commodities diretamente, só umas 10 vezes em 20 anos da gestora — e essa é uma dessas poucas vezes.”