A taxa de juros dos títulos de 10 anos do Tesouro americano – o preço mais importante da economia mundial – está a um triz de chegar a 5%, aproximando-se do maior valor em quase 18 anos.
A última vez em que os yields ficaram consistentemente acima desse patamar foi em 2007, antes da grande crise financeira internacional.
Nesse longo período de grande liquidez nos mercados internacionais e juros excepcionalmente baixos, a rentabilidade dos Treasuries de 10 anos ficou acima de 5% apenas brevemente, em 2023.
Os yields dos títulos de 10 anos atingiram hoje 4,79%, com os investidores relutantes em comprar papéis longos em uma conjuntura de inflação ainda sticky – persistente, na gíria de Wall Street – e indefinições sobre as políticas de Donald Trump.
Nos Treasuries de 30 anos, as taxas já são as mais elevadas desde abril de 2007: 4,97%.
A escalada dos juros americanos, iniciada ainda no final de 2024, derrubou a euforia do rali motivado pela eleição de Trump nos ativos americanos.
O S&P 500 já devolveu todos os ganhos que teve após a vitória do republicano e retornou aos níveis do início de novembro. Hoje o índice encerrou o dia em uma modesta alta de 0,16%.
O Nasdaq caiu 0,38%, com muitas ações de tecnologia acentuando a correção dos últimos dias. O índice acumula perda de 2% no ano, mas ainda está em alta de mais de 27% em 12 meses.
O indicador econômico mais aguardado da semana é o Consumer Price Index (CPI), que sairá na quarta-feira.
Ainda sem conseguir avaliar os efeitos do ‘Trumponomics’ na inflação e nas contas públicas, o mercado subiu o prêmio exigido para a compra dos papéis mais longos.
A economia americana continua aquecida – e o Fed já sinalizou, na ata de sua última reunião, que poderá rever o ritmo do corte de juros.
Alguns bancos, como o Bank of America, consideram que o Fed não vai mais reduzir a taxa neste ano.
“Depois dos números fortes do emprego em dezembro, achamos que o ciclo de cortes chegou ao fim,” disse o BofA. “A inflação parou acima da meta, com risco de alta.”
O Deutsche Bank estima que o Fed deverá voltar a diminuir os juros apenas em 2026.
“Os yields dos títulos longos subiram porque o mercado acredita ser improvável que o Fed corte muito mais os juros a partir de agora,” o estrategista Parag Thatte, do Deutsche Bank em Nova York, disse ao Brazil Journal. “O crescimento da economia está ainda bastante forte, e o Fed não está confortável com a inflação.”
Thatte, no entanto, disse que o cenário para a Bolsa americana permanece “construtivo.”
“Quedas de 5% são comuns, acontecem com frequência,” disse o estrategista. “Pode ser que agora caia um pouco mais, se houver algum catalisador negativo. Mas os fundamentos econômicos continuam sólidos, com crescimento e um mercado de trabalho robusto.”
Segundo ele, o que causa maior impacto no mercado acionário não é a alta nos juros dosTresuries, mas a volatilidade nos preços dos papéis. Assim que eles se estabilizarem, provavelmente ao redor dos níveis atuais, as ações deverão retomar sua trajetória de valorização.
A Goldman Sachs também mantém uma visão otimista sobre a economia americana – mas ressaltou que o contexto de curto prazo ficou um pouco mais “complicado.”
“Nosso cenário base continua favorável a ações e crédito nos EUA,” o banco disse num relatório. “Mas o mix de crescimento da economia acima do previsto e a precificação pelo mercado de um Fed mais hawk complicaram o cenário.”
A Goldman, que antes estimava que o Fed faria três cortes neste ano, agora vê duas reduções – em junho e em dezembro – além de um alívio adicional em 2026. A taxa terminal ficaria na faixa entre 3,5% e 3,75%, ante a faixa atual de 4,25% a 4,5%.