Um relógio que reuniu duas das marcas mais emblemáticas do mercado de luxo está mobilizando colecionadores e VIPs globais.

A Patek Philippe lançou uma edição limitada de seu disputado Nautilus 5711 com o visor na cor do tradicional azul claro da Tiffany. Foram feitos apenas 170 exemplares – em homenagem aos 170 anos da joalheria e também à sua histórica parceria com a fabricante suíça de relógios. As palavras “Tiffany & Co.” aparecem estampadas na parte inferior do visor, outra raridade.

De tão exclusivo, o exemplar foi chamado de “unicórnio da relojoaria” pelo New York Times.

Talvez os US$ 52.635 do preço oficial de venda nas lojas não fossem problema para você, mas os modelos foram todos oferecidos aos clientes no topo da lista de ultra VIPs da Tiffany – que, aliás, é revendedora autorizada da Patek Philippe desde 1851.

No final do ano passado, a Patek deu mais uma chance de comprar o relógio – o primeiro dos 170 da série – mas o preço foi um pouquinho maior… O Tiffany Blue Nautilus bateu US$ 6,5 milhões num leilão na Phillips em Nova York, mais de 120 vezes seu preço no varejo. (O leilão beneficiou a Nature Conservancy.)

Os colecionadores fizeram fila. O lance inicial foi de US$ 20.000. Instantes depois, o valor oferecido já havia passado, e muito, os US$ 52.635. Como previsto, a disputa foi eletrizante. Em 15 minutos, o modelo foi arrematado por US$ 5,3 milhões por um comprador de Nova York cuja identidade não foi revelada. Sobre o valor da oferta final pesa ainda uma cobrança adicional de US$ 1,2 milhão em comissões.

Nunca ninguém havia se disposto a desembolsar tanto por um Nautilus. Foi o oitavo maior valor alcançado em leilões de relógio em todo o mundo, incluindo aí os exemplares raros e históricos. Nos Estados Unidos, os valores nunca tinham superado a casa de US$ 1 milhão.

Horas depois, veio o ‘plot twist’.  O comprador não apresentou as suas credenciais nem depositou o dinheiro. O colecionador californiano Zach Lu, que havia feito lances frenéticos no leilão mas achou melhor parar em US$ 5 milhões, foi procurado dias depois e ficou com o relógio. Desembolsou ao todo US$ 6,2 milhões.

Apesar de ter apenas 31 anos, Zach disse que coleciona Pateks desde os 16. É um antigo conhecido dos executivos da fabricante suíça. Em seu perfil no Instagram, com mais de 50 mil seguidores, ele não esconde sua obsessão: posta quase que exclusivamente fotos de seus relógios Patek e da também suíça Richard Mille.

Havia outra razão para o enorme interesse no leilão: o 5711, um dos relógios mais disputados pelos colecionadores de relógios esportivos, deixou de ser produzido. Segundo a Patek Philippe, o sucesso estrondoso desse modelo em particular estava fazendo mal para a marca.

O Nautilus, com sua caixa octogonal, apareceu pela primeira vez em 1976, com design de Gerald Genta. Foram lançadas várias séries e coleções, com diferentes tipos de material, mas, por alguma razão misteriosa que provavelmente só pode ser explicada pela psicologia humana, os 5711 com visor azul marinho escuro, em caixa de aço e lançado em 2006, ganharam tamanha popularidade a ponto de os executivos da empresa terem achado melhor dar fim à sua produção.

A fila de espera para adquirir nos revendedores oficiais, por preço ao redor de US$ 33.700, alcançava dez anos. Fora disso, só no mercado paralelo, onde os valores facilmente passam dos US$ 150 mil.

“Não tenho a menor ideia por que esse relógio, de repente, alcançou um sucesso tão grande”, disse o CEO da Patek Philippe, Thierry Stern. “Mas não queremos ser uma empresa de um produto só. Por isso decidimos encerrar o 5711. Já fizemos o suficiente dele.”

A primeira celebridade a circular com um dos 5711 Tiffany no pulso foi o rapper Jay-Z, a.k.a. “o marido da Beyoncé”. LeBron James também assegurou um exemplar para sua coleção, bem como o ator Mark Wahlberg, outro acumulador notório de relógios cobiçados.

A missão de escolher os VIPs que terão a primazia de usar um dos 169 Blues ficou a cargo da Tiffany – e, obviamente, de seu novo dono, Bernard Arnault, o chefe da LVMH.

Alexandre, filho de Bernard, assumiu a vice-presidência de produtos e comunicação da joalheria e foi um dos organizadores do leilão.

Uma nova série do Nautilus chegará ao mercado em breve, e muita gente acha que o leilão beneficente não passou de uma grande jogada publicitária, tanto da Patek como da Tiffany.

Dias atrás, Arnault le fils postou em seu Instagram uma foto em que seu pai exibe no pulso um Patek Nautilus 5740 – este sim, uma peça única, com um visor azul Tiffany.

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