A B3 está lançando um fundo para investir em startups, um esforço da empresa — que opera um monopólio de fato — para atrair inovação e se antecipar a potenciais disrupções do seu negócio.

A Bolsa vai colocar R$ 600 milhões no L4 Venture Builder, que terá duas estratégias: investir em empresas que tragam inovação ao negócio ‘core’ da Bolsa, ou que complementem seu negócio por operar em segmentos adjacentes, como os mercados de energia, carbono, finanças descentralizadas, tokenização de ativos, soluções para fintechs, neobanks, crowdfunding e pagamentos.

11715 48c69405 a701 b875 a8a8 609a520c6f91A escolha do nome – L4 – é um capítulo à parte: ‘L’ é a décima letra após o ‘B’, o que indica que o fundo vai buscar empresas que possam crescer 10x; e ‘4’ vem depois do ‘3’, indicando crescimento além do core business da bolsa.

O gestor do L4 será Pedro Meduna, que começou a carreira como consultor estratégico na Bain e na TMG Capital e depois resolveu empreender. Em 2014, ele foi um dos fundadores da Tripda, uma startup de caronas da Rocket Internet que queria concorrer com o BlaBlaCar, mas que não deu certo.

De lá, Pedro foi para o time do Cabify, onde ficou cinco anos até 2020, quando se juntou ao Projeto Juntos Somos Mais,  uma espécie de programa de fidelidade do varejo de material de construção, criado por Votorantim, Gerdau e Tigre.

Pedro vai formar a equipe de gestão do fundo e a B3 terá presença apenas no conselho, provavelmente com duas cadeiras, uma delas ocupada pelo CEO Gilson Finkelsztain.

Juca Andrade, o vice-presidente de produtos e clientes da B3, disse ao Brazil Journal que a ideia da Bolsa é acompanhar o ecossistema de inovações bem de perto.

“O objetivo não é apenas retorno financeiro, mas uma alavancagem com o negócio da B3. As empresas que atingirem patamares maduros poderão ser incorporadas pela Bolsa,” disse Juca.

A estratégia de fazer a estrutura totalmente separada da B3 deixa a Bolsa alinhada ao negócio, e ao mesmo tempo dá  liberdade aos gestores do fundo e aos fundadores das investidas para trabalhar dentro de suas próprias culturas, disse Juca.

Depois de fazer um curso de estratégias disruptivas em Harvard, Gilson sugeriu a outros dez executivos da Bolsa que também fizessem o curso, baseado na teoria de Clayton Christensen, o professor da universidade que escreveu o livro “The Innovator’s Dilemma” e cunhou o termo disrupção.

“A tese é que o mais difícil é disruptar você mesmo, porque você já tem processos, conhece um jeito de fazer as coisas e vai tentar enquadrar tudo por aí. E isso aumenta muito a chance de você não conseguir inovar,” disse Juca.

“O setor financeiro está sendo disputado e nós temos que estar preparados para de alguma forma nos ‘auto disruptar’. Se tivermos de migrar nosso negócio para tudo o que é novo, vamos migrar,” disse.

O fundo terá prazo de investimento de 5 anos e não há um tíquete mínimo ou quantidade de empresas definida. “Não vamos fazer nenhum investimento acima de 20% do fundo; e a ideia é fazer novas tranches nas empresas ao longo do tempo,” disse Pedro.

O L4 poderá comprar controle ou participações minoritárias, numa atuação de corporate venture capital, mas sempre vai “empoderar” os fundadores e o time que toca o negócio, disse o gestor do L4.

As empresas investidas vão poder contar com apoio e a expertise da B3 nos seus negócios, mas sem influência direta.

Juca disse que a decisão da B3 de fazer esses investimentos é estratégica e de longo prazo, e não é afetada pela conjuntura atual mais reticente para o investimento em startups.

Para Pedro, o timing é ideal. “Se houver menos investidores competindo nas transações, será possível fechar negócios em múltiplos mais baratos ou pelo menos a chance de negociar e conversar com mais calma,” disse.