O tempo é nosso bem mais escasso: independente da condição financeira, ninguém pode comprar mais. Inventar horas adicionais ou economizar minutos para serem usados no dia seguinte fazem parte somente de roteiros de ficção científica. Ademais, o avanço tecnológico e a digitalização estão causando aquela percepção cada vez mais comum de que o tempo está passando mais rápido, ainda que, por óbvio, o futuro continue chegando um dia de cada vez.

A administração do tempo ganhou maior relevância porque estamos vivendo mais, a tecnologia permite ganhos de produtividade e a saúde mental preocupa metade da população brasileira, segundo uma recente pesquisa da Ipsos. Temos que aprender a viver e gerir melhor o tempo e, sem acelerar demais, estar à frente do nosso tempo para não sermos atropelados pelas inovações.

Numa pesquisa Datafolha, 73% dos brasileiros disseram que a tecnologia presente em suas vidas faz com que sobre mais tempo para as atividades que dão prazer. O mesmo levantamento revela que um quarto dos brasileiros assiste vídeos ou ouve áudios no WhatsApp em alta velocidade para, supostamente, ganhar tempo. Apenas 9% da população adulta acredita que tem um ritmo de vida “calmo”, enquanto 43% declaram viver em ritmo “acelerado ou muito acelerado”.

O fascínio pelo tema da gestão de tempo é ancestral. Em Física, Aristóteles escreveu (300 anos antes de Cristo) que, se nada mudasse, não teríamos consciência do tempo. Para Aristóteles, não existe tempo se não há mudança.

Em seu livro autobiográfico Confissões, do século IV, Santo Agostinho propõe que a medida do tempo tem como base a atividade da mente: o espírito humano é o senhor da mensuração temporal. Como, hoje em dia, tudo muda em todo lugar ao mesmo tempo, é natural que nos sintamos atordoados ou acelerados.

As pessoas realmente produtivas não se perdem entre o imperativo de trabalhar e se divertir. Elas correm atrás das duas coisas. Se você acha que “produtividade” é simplesmente escrever rápido um artigo, provavelmente vai se sentir improdutivo. Agora, se você procura aprender algo novo ao escrever e – melhor – tenta passar esse conhecimento adiante, aí seu tempo será consumido de forma eficaz. Nossa sensação de falta de produtividade normalmente não é causada por ineficiência, mas por falta de motivação e propósito. Produtividade não é uma virtude em si, é um meio para se chegar a algum lugar. Se você tem paixão pelo que faz, vai encontrar uma motivação intrínseca. Vai encontrar tempo para fazer tudo.

Além de uma visão mais inspiracional do uso do tempo, pequenas ações podem ajudar você a ser mais produtivo, como planejar bem sua semana e organizar suas tarefas por urgência e importância, definindo prioridades. Pesquisas sobre administração do tempo mostram que meros dez minutos por dia de planejamento costumam economizar duas horas por dia do seu tempo. Como tempo é dinheiro, se não for bem administrado, você está jogando fora.

Há, por certo, aspectos macroeconômicos e sociais importantes no tema da produtividade que também devem ser levados em conta. “Produtividade não é tudo, mas, no longo prazo, é quase tudo”, escreveu Paul Krugman, o Nobel de Economia.

Entre 1981 e 2021, a taxa média de crescimento da produtividade do trabalhador brasileiro evoluiu apenas 0,6% ao ano, uma das mais tímidas expansões do mundo. O que um trabalhador norte-americano leva 15 minutos para fazer, um brasileiro consome uma hora, aponta o professor da USP, José Pastore. Há vários fatores que nos tornam uma economia improdutiva e, portanto, pouco competitiva, como o ambiente de negócios hostil e a baixa qualidade da educação. A boa notícia é que a digitalização e a tecnologia podem nos ajudar a reduzir esse abismo.

Além de produtivos, queremos também ser criativos e estar à frente do nosso tempo. Produtividade normalmente é motivada pela atenção que damos à realização de uma tarefa, sem distrações. Mas a criatividade ocorre justamente quando baixamos os filtros e pensamos livremente. Para reunir o melhor das duas coisas, especialistas costumam sugerir que, se você é uma pessoa mais produtiva pela manhã, suas atividades que exigem mais atenção devem ser feitas cedo, quando você tem mais energia. Analisar o investimento em um novo projeto, por exemplo, ou fazer um planejamento estratégico. Seu trabalho criativo pode ficar mais para o final da tarde, quando seu pensamento tende a ser menos linear.

É preciso também estabelecer limites, tirar férias, parar e descansar de vez em quando, não só por conta da saúde e da família, mas também porque é nesses momentos que surgem as ideias. Steve Jobs, por exemplo, costumava fazer longas caminhadas, em geral, sozinho, para refletir sobre seus desafios e problemas.

Voltando ao fundador da Apple, Jobs contou em um famoso discurso de formatura na Universidade de Stanford que seu mantra era viver cada dia como se fosse o último porque, algum dia, isso seria verdade. “Eu olhava no espelho de manhã e me perguntava se, aquele fosse meu último dia, eu faria o que estava na minha agenda daquele dia. Se a resposta fosse não ao longo de muito tempo, eu sabia que tinha que mudar algo”. Se você está “sem tempo”, ou achando tudo um tédio, talvez seja a hora de mudar.

Christian Gebara é presidente da Vivo.