A Tellus – uma gestora focada em real estate que tem R$ 5,6 bilhões em ativos – acaba de levantar um fundo imobiliário para investir unicamente em imóveis locados para hospitais de alta complexidade e clínicas de saúde. 

O fundo – que levantou R$ 1,4 bilhão com investidores institucionais – é um dos primeiros do mercado a focar 100% no setor de saúde, que não vinha atraindo muita atenção dos investidores nos últimos anos por algumas peculiaridades do segmento.

André abreu pereira“Muita gente fala que, quando um hospital para de pagar aluguel, é muito difícil de tirar o inquilino,” André Abreu Pereira, o gestor da Tellus, disse ao Brazil Journal. “E se você consegue tirar, é difícil encontrar um novo inquilino porque o imóvel tem um perfil muito específico.”

Segundo ele, muitos investidores também tem medo de alocar no setor porque a maioria dos contratos de locação de hospitais são contratos simples, em que a cada três anos o inquilino pode rediscutir os termos. 

Para mitigar esses riscos, a Tellus só fará contratos de longo prazo de build to suit ou de sale and leaseback. “Além disso, estamos escolhendo muito bem para quem alugar, e buscando imóveis em localizações que permitam outros usos caso o inquilino saia,” disse.

Com os recursos, a Tellus pretende investir em seis a oito hospitais de alta complexidade e em três a quatro clínicas de saúde. A gestora já comprou um imóvel em Higienópolis – alugado para a Oncoclínicas – e está negociando outros ativos com a companhia.  

A expectativa do fundo é entregar um dividend yield de 10,5% a 11% ao ano. Comparado com a Selic parece baixo, mas André diz que o foco do fundo não é entregar um yield tão elevado, e sim buscar “projetos triple-A que tenham um bom retorno no longo prazo.” 

Num primeiro momento, o fundo não será listado em Bolsa, mas a ideia da Tellus é fazer um follow-on no futuro com investidores de varejo.

“Agora estamos na fase de criar os veículos e comprar e construir os ativos, não faz sentido listar. Mas depois que tivermos esses primeiros projetos prontos e gerando renda, é algo que devemos fazer,” disse o gestor.

Segundo ele, esses R$ 1,4 bilhão de equity dão um poder de compra de R$ 2,1 bi para o fundo, considerando uma alavancagem de 50%.  

André disse que a ideia de investir no setor de saúde tem a ver com a falta de players nesse nicho e com as tendências seculares do setor.

“Com o envelhecimento da população você tem uma maior dependência das pessoas com as questões de saúde,” disse ele. “E é um setor muito resiliente, diferente de shoppings, por exemplo, que tem sofrido com a disrupção do ecommerce. Em saúde até tem consultas online, mas tem muitas operações que obrigatoriamente você tem que fazer presencial.”

A Tellus não é o único fundo imobiliário que investe no setor de hospitais. O PVBI11, um FII listado gerido pela VBI Real Estate, tem alguns imóveis locados para a Prevent Senior, mas seu portfólio é diversificado em outros segmentos. 

Há ainda alguns FIIs monoativos que são donos de imóveis locados para hospitais como o Hospital da Criança.