A Symphony, a plataforma de mensagens e colaboração entre funcionários de bancos criada para desafiar a hegemonia da Bloomberg, acaba de levantar US$ 165 milhões numa rodada que avaliou a companhia em US$ 1,4 bilhão.

O Standard Chartered e a MUFG Innovation Partners — uma divisão da Mitsubishi que faz investimentos em fintechs — tornaram-se acionistas da companhia, juntando-se a um consórcio de mais de uma dúzia de instituições do mercado, de bancos como a Goldman e o JP Morgan a gestoras como a BlackRock.

A Symphony nasceu em 2014 depois de um escândalo de segurança: banqueiros de Wall Street descobriram que os repórteres da Bloomberg podiam ver informações confidenciais sobre o que os usuários dos terminais estavam fazendo e inferir quais negócios estavam fechando. 

A Bloomberg rapidamente resolveu o problema, mas o estrago já estava feito. 

A brecha abriu espaço para que uma coalizão de bancos liderada pelo Goldman levasse adiante sua ambição de construir uma plataforma alternativa (e mais barata).  A Bloomberg cobra US$ 24 mil por terminal por ano.

Para quem não é do mercado: os terminais da Bloomberg são cruciais para o trabalho de traders e investidores. Eles oferecem uma gigantesca bases de dados, notícias e são uma das principais formas de comunicação entre os participantes do mercado. É por meio do chat da Bloomberg que bancos e gestoras se consultam mutuamente sobre preços e condições de diversos negócios. 

A Goldman já estava desenvolvendo uma solução para unificar as dezenas de ferramentas de comunicação que usava internamente. Juntou-se então à Perzo, uma startup fundada por David Gurle, um executivo da Thomson Reuters e da Microsoft, e vários outros bancos aderiram ao projeto. 

A plataforma criptografada e integrada na nuvem já recebeu ao todo US$ 460 milhões em investimentos — e ganhou status de unicórnio em 2017 quando foi avaliada em US$ 1 bi. 

Hoje, a Symphony tem cerca de 430 mil usuários em mais de 60 países, mais que os 325 mil da Bloomberg. 

Mas o caminho para quebrar o quase monopólio da gigante é muito mais complicado.

A rentabilidade da Symphony é infinitamente menor, o que significa que o negócio precisa de muito mais escala. A Symphony cobra US$ 240 por ano por usuário, 1% do valor da concorrente. 

O Business Insider mostrou no ano passado que apesar do incentivo dos próprios bancos – que são acionistas — os funcionários de áreas-chave, como trading, ainda resistem à Symphony, cujo uso está mais restrito ao back office.

Fontes ouvidas pelo BI apontaram duas questões principais. Primeiro, o bom e velho costume – eles já estão habituados com a plataforma da Bloomberg e não querem correr o risco de apertar um botão errado num sistema novo. Segundo: há poucos clientes dos bancos (gestoras e investidores em geral) na Symphony o que dificulta o ‘network effect’ crucial em plataformas do tipo.

Para aumentar sua atratividade, a companhia vem trabalhando no desenvolvimento de soluções automatizadas que facilitam o trabalho nas mesas de operação.

A empresa já desenvolveu mais de 500 ‘bots’, programas automatizados que navegam na plataforma fazendo de tudo — desde notificar as pessoas sobre falhas em trades e avisar sobre os relatórios de research mais relevantes sobre determinado tema, até fazer o onboarding de clientes. Esses bots já representam mais de 10% nas mensagens enviadas. 

“Estamos fazendo um buraco no forte da Bloomberg”, Gurle disse à CNBC. “Nossos consumidores estão dizem: hoje eu estou usando o aplicativo de mensagens da Bloomberg pra fazer esse trade. Por que eu não posso automatizar esse processo para reduzir custos operacionais e reduzir os erros, e fazer tudo isso em uma plataforma aberto na qual todo mundo está entrando?”

Há dois anos, no entanto, ele mesmo reconheceu em memorando aos funcionários que, ao menos num primeiro momento, seu principal concorrente não é a empresa de Michael Bloomberg, mas sim os aplicativos de comunicação empresarial, como o Slack e o Microsoft Teams. A ideia é expandir o negócio para outras áreas nas quais sigilo de informação e compliance são cruciais, como escritórios de advocacia, firmas de auditoria e até mesmo governos.

No Brasil, a Symphony ainda engatinha, mas recentemente começou uma investida um pouco mais agressiva. A companhia estabeleceu uma gerência de vendas em São Paulo e patrocinou recentemente o congresso da Anbima.