A Galp, a Suzano e a Vibra estão se juntando em uma parceria inédita: com o objetivo de trocar informações e estudar um modelo para viabilizar em escala o uso do combustível sustentável de aviação, conhecido pela sigla SAF, em inglês.
As companhias vão fazer parte de um cluster criado pela Bolder, uma consultoria de inovação corporativa. A ideia foi reunir empresas de diferentes elos da cadeia de valor do combustível: uma produtora, a Galp; uma produtora de biomassa, a Suzano; e uma distribuidora, a Vibra.
Em um primeiro estágio, que dura um ano, executivos das três empresas vão se reunir a cada 15 dias para trocar informações sobre o estágio em que estão no estudo do SAF dentro de suas próprias companhias e pensar em soluções futuras.
“Vamos descobrir quão sustentável e escalável é produzir SAF a partir de etanol, sebo de boi ou florestas de eucaliptos,” disse Hector Gusmão, o CEO da Bolder.
Uma das mais entusiasmadas com o projeto é a Vibra, que quer virar uma referência internacional na distribuição de SAF e acredita que o cluster será uma maneira de atrair a atenção de diferentes atores, startups e empresas.
“Queremos ser protagonistas e a criação do cluster com essas grandes empresas mostra que a Vibra vai botar os melhores esforços, os melhores recursos e as pessoas certas para de fato isso acontecer e para que não seja somente um projeto,” Juliano Prado, o vice-presidente de B2B da Vibra, disse ao Brazil Journal.
O grande desafio de escalabilidade do SAF é o preço. A depender do mercado, ele pode custar de duas a cinco vezes mais que o querosene de aviação tradicional. Mesmo assim, o consumo do SAF, por conta das metas das companhias aéreas para reduzir a emissão de CO2, tem crescido exponencialmente.
De acordo com dados da Vibra, em 2022 foram consumidos 300 mil metros cúbicos de SAF no mundo. Este número saltou para 600 mil no ano passado e a expectativa é que termine 2024 em 1,8 milhão de metros cúbicos.
Mesmo assim, isso representaria apenas 3% da demanda global. Para atingir as metas de descarbonização, terá que chegar a 50% em 2050.
O vp de logística da Vibra, Marcelo Bragança, diz que a empresa está apenas fazendo testes de distribuição de SAF, mas que não há consumo do combustível no Brasil.
Para ele, a matéria-prima e a tecnologia de conversão devem ser os grandes diferenciais que o cluster das três empresas poderá oferecer. “A gente tem que almejar que o Brasil não seja apenas um exportador de matéria-prima para produção de SAF.”
E é neste ponto da matéria-prima que entra a Suzano. A empresa quer expandir sua atuação para além do papel e celulose, e por isso tem buscado soluções na bioeconomia.
A lógica da empresa é simples: ela entende de plantar eucalipto em larga escala e de forma competitiva. Como usar essa biomassa para entrar em outras áreas?
“Fazer tudo sozinho é custoso e demorado, e junto com outras empresas que entendem do assunto o aprendizado é acelerado exponencialmente,” disse Miguel Sieh, o diretor de inovação da Suzano. “E não existe biocombustível sem biomassa, que é a nossa expertise.”
O cluster de SAF não é a primeira expedição da Suzano no mundo da pesquisa colaborativa. Em janeiro, a empresa anunciou uma parceria com a Mitsui para o estudo e desenvolvimento de bioprodutos e biocombustíveis.
Enquanto as empresas levam sua expertise para o cluster, a Bolder aporta informações sobre startups e iniciativas em torno do SAF mundo afora.
Em um segundo estágio, o de inovação, a ideia é prototipar formas de viabilizar a produção. Em uma terceira fase, a expectativa é fazer acordos entre as empresas para aporte de inteligência, investimento em startups ou até mesmo formar uma empresa de VC juntas.
Outras empresas ainda podem se juntar ao cluster, desde que não sejam da área de atuação dos atuais participantes.