O que dá mais retorno?  Escolher um gestor de investimentos e pagar taxas de administração e performance — geralmente 2% do patrimônio ao ano e mais um pedaço do resultado — ou colocar seu dinheiro num fundo passivo, que segue bovinamente um índice como o Ibovespa ou o S&P 500 e cobra uma taxa minúscula?

O debate sobre os dois tipos de gestão — ativa e passiva — é um dos mais antigos em Wall Street, mas, nos últimos 10 anos, um claro vencedor emergiu: a indústria de fundos passivos.

A estratégia está explodindo nos EUA, e a Vanguard, a empresa que inventou o produto, tem sido (de longe) a maior beneficiária.

Duas ideias movem a indústria de fundos passivos. A primeira é a de que nenhum gestor consegue superar o próprio mercado no longo prazo, o que tornaria o exercício de escolher ações para uma carteira no mínimo desnecessário. Para ilustrar essa ideia, John Bogle, o legendário fundador da Vanguard, certa vez brincou: “Não fique procurando a agulha no palheiro: compre logo todo o palheiro.”

A segunda é uma realidade matemática: como os fundos de gestão ativa cobram taxas muito maiores, o investidor entrega boa parte de seu patrimônio ao longo do tempo. A conclusão lógica: o investidor deveria optar por fundos passivos, que cobram taxas minúsculas e rendem o que o índice da Bolsa render.

The New York Times recentemente publicou números chocantes sobre a escala da Vanguard.

Nos últimos três anos, investidores colocaram US$ 823 bilhões em fundos da Vanguard, em termos líquidos (depósitos menos saques).  Para efeito de comparação, toda a indústria de fundos mútuos dos EUA, que inclui mais de 4.000 gestoras, recebeu apenas US$ 97 bilhões ao longo do mesmo período. Os dados são da Morningstar, empresa que monitora a indústria de fundos.

Nos últimos sete anos, os ativos sob gestão da Vanguard mais do que quadruplicaram: de US$ 1 trilhão para US$ 4,2 trilhões — cerca de US$ 3 trilhões dos quais estão investidos em fundos passivos.

Já a métrica ‘ativos sob gestão por funcionário‘ da Vanguard humilharia qualquer gestor de hedge fund: são US$ 44 bilhões por empregado.

A Vanguard tem uma estrutura acionária peculiar. Ao contrário de outras gestoras — que pertencem aos sócios fundadores ou são listadas na Bolsa — ela pertence aos próprios cotistas de seus fundos, o que significa que a diluição de custos causada pelo crescimento dos ativos sob gestão é repassada a seus cotistas.

O resultado é visível:  de 1975 (quando lançou seu primeiro fundo) para cá, as taxas de administração dos fundos da casa caíram de 0,89% ao ano para 0,12% ao ano. Segundo o Times, a taxa média para os fundos ativos hoje é de 1% ao ano — e tem caído com velocidade.

Aparentemente, nem a Vanguard esperava crescer tão rápido. A popularização dos fundos passivos tem causado problemas no call center da empresa, onde 6.000 atendentes lidam com os 8 milhões de americanos que compram fundos diretamente da Vanguard; só essa área de varejo da gestora abriu 350.000 novas contas por ano em 2015 e 2016. (Esse número não considera os americanos que são beneficiados por planos de aposentadoria corporativos administrados pela Vanguard.)

“Tem havido relatos de problemas operacionais, incluindo o site sair do ar, tempos de espera maiores do que o normal e erros na transferência de recursos,” diz o Times.  A Vanguard disse que está investindo para absorver o crescimento.

Dos 10 maiores fundos mútuos dos EUA hoje, seis pertencem à Vanguard, e o maior deles — o Vanguard Total Stock Market Index — administra US$ 465 bilhões.  Apenas dois dos 10 maiores fundos têm gestão ativa — ambos do Capital Group.

Os fundos passivos estão longe de ser instrumentos perfeitos. Às vezes, eles acabam sendo maiores do que o mercado que tentam replicar.  Outras vezes, há distorções momentâneas de preços que podem machucar os investidores.

Warren Buffett é um dos maiores defensores da Vanguard e do investimento em fundos passivos. Entenda por que lendo este post.

Abaixo, pérolas de sabedoria de John Bogle:

“Time is your friend; impulse is your enemy.”

“The stock market is a giant distraction to the business of investing.”

“In the long run, investing is not about markets at all. Investing is about enjoying the returns earned by businesses.”

“Buy right, and hold tight.”

“The grim irony of investing, then, is that we investors as a group not only don’t get what we pay for, we get precisely what we don’t pay for. So if we pay for nothing, we get everything.”