Sou um microempresário, dono de uma indústria gráfica que abriu as portas em 2006 em Contagem, Minas Gerais. 

Produzimos materiais para o mercado corporativo, como cartões de visita e outros impressos de uso contínuo usando tecnologia web.

Com o registro dos primeiros casos de covid-19 no Brasil no início de março, a demanda já desacelerou bastante. Com o aumento dos casos em São Paulo, onde está a maioria dos nossos clientes, a coisa piorou.  Dia 19 de março já estávamos fechados.

Optei por interromper nossas atividades até o final daquele mês até entendermos melhor o cenário que enfrentaríamos mais à frente. Nesse intervalo o governo começou a divulgar ações para apoio às micro e pequenas empresas, entre elas um crédito específico para o pagamento da folha salarial durante dois meses.

Inicialmente comemorei essa iniciativa, que não só beneficiaria a minha empresa, como milhares de outras por todo o País.

No dia 1º de abril entrei em contato com meu gerente no Banco do Brasil para buscar orientações sobre como ter acesso a esse crédito, e me surpreendi com a resposta de que as diretrizes da operação sequer haviam sido definidas pelo banco. Já sofrendo na veia o impacto da crise, tudo o que eu queria era poder contar com esse auxílio para o pagamento de dois meses de folha. E, para não impor às famílias dos nossos funcionários uma situação crítica, precisei utilizar parte do nosso caixa para quitar a folha de março. 

Continuei monitorando o status dessa linha de crédito com nosso gerente e, até meados de abril, nada havia sido liberado pelo banco. Nesse momento, aconselhando-me com meu contador, optei por suspender os contratos de trabalho de nossos funcionários por 60 dias, evitando assim uma maior queima de caixa. 

Somente no dia 16/4 tive um retorno do banco, informando que apenas os clientes que já tinham convênio de pagamento firmado na instituição tiveram acesso a uma primeira rodada dessa linha de crédito. Perguntei ao meu gerente o porquê dessa exigência, e ele disse que foi determinação da diretoria. 

Inclusive fui aconselhado a aderir ao convênio, mas perguntei se poderia acessar à segunda rodada da operação para pagar as folhas de junho e julho, uma vez que abril e maio seriam cobertos pela suspensão dos contratos.  Mais uma vez ouvi que não seria possível. 

Aprofundando a conversa, ouvi desse mesmo gerente que somente uma dentre as mais de 150 empresas de sua carteira tinham aderido a essa operação, e a causa foi basicamente a mesma: o dinheiro demorou a chegar, as empresas não podiam mais aguardar e tiveram que tomar uma decisão urgente: algumas suspenderam contratos, outras optaram por demitir. 

Segundo dados divulgados dia 4 de maio pelo Banco Central, somente 1% dos R$ 40 bilhões destinados a essa linha de crédito foram efetivamente contratados por empresas em todo o Brasil. 

 
Em outra vertente, tentei adiar o pagamento de 2 parcelas do FINAME que tenho na gráfica, o que também não foi possível. Segundo o gerente, esse empréstimo não se enquadra no rol das operações elegíveis a postergação pelo BNDES.
 
É lamentável ver que a burocracia foi maior e mais forte do que o senso de urgência em socorrer as micro e pequenas empresas brasileiras.

Algumas terão mais fôlego, outras infelizmente quebrarão. Muito também se falou sobre linhas de capital de giro subsidiadas pelo Tesouro a 3,75% ao ano para garantir o pagamento de despesas fixas que continuam a existir durante a pandemia, e mais uma vez esse dinheiro ainda não chegou até a ponta. 

Desse tipo de empréstimo, não tive nenhuma informação até agora. 

Será que chega para o Natal?


Alisson Salles é empreendedor em Minas Gerais.