Roberto SetúbalO alto nível de capitalização do Itaú Unibanco poder levar o banco a turbinar seu pagamento de diviendos ou aumentar sua participação no Itaú CorpBanca, banco chileno no qual o Itaú já detém mais de um terço do capital.

O assunto foi discutido recentemente durante a reunião trimestral de analistas com o RI do banco, e voltou a ser abordado hoje durante a APIMEC do banco em São Paulo. 

 
Os investidores têm perguntado sobre o excesso de capital e cobram do management uma resposta sobre o uso deste excesso. O assunto ganhou ainda mais importância depois que a Itaúsa, holding que controla o banco, anunciou estar contemplando investir em outros negócios, como fazer uma oferta pela BR Distribuidora.
O Itaú tem hoje um índice de capitalização — que mede quanto um banco carrega de capital próprio para o volume de empréstimos que faz — maior do que o de seus concorrentes.

O chamado ‘capital principal’ do Itaú era de 15,7% no final de setembro.  Ajustado pelas regras de Basiléia III, o número cai para 14,1%.  Considerando-se os efeitos da aquisição do Citibank e da operação de consignado Itaú BMG, o índice cai mais 0,5 ponto para 13,6%, mas volta a 14,6% quando se coloca na conta o consumo de créditos tributários.
 
Para efeito de comparação, o capital principal do Bradesco, quando ajustado por Basiléia III e levando-se em conta as sinergias do HSBC e amortização do ágio, é de 12,1%; o do Banco do Brasil, 9,07%.

O índice de Basileia serve para para garantir uma capitalização mínima, que permita ao sistema bancário cobrir eventuais prejuízos e evitar crises sistêmicas.

Quanto maior o índice, mais sólido o banco — mas também menos rentável, já que sua receita com intermediação financeira (os juros cobrados dos tomadores de empréstimo) tem que remunerar uma base de capital maior.

Há, essencialmente, três formas do Itaú usar seu capital em excesso: ganhar ‘market share’ (via crescimento da carteira de crédito), fazer aquisições, ou devolver capital para seus acionistas via pagamento de dividendos ou recompra de ações.

Ganhar ‘market share’ é um caminho possível, mas, no caso do Itaú, não seria suficiente para consumir todo o capital em excesso dado o baixíssimo crescimento do PIB esperado para os próximos três anos e a falta de demanda por crédito no cenário atual.

A recompra de ações parece um caminho improvável.  A ação do Itaú negocia hoje a 2x seu valor patrimonial, e tradicionalmente, os bancos só fazem recompras agressivas quando sua ação está perto do valor patrimonial.  “Uma recompra só faria sentido se o banco estivesse muito barato,” diz um gestor. “Eles fizeram isso muito bem nos últimos anos.”

Hoje à tarde, Roberto Setúbal disse acreditar que o ‘nível ideal’ de capitalização do banco é em torno de 12,5%, e sugeriu que o banco pensa em aumentar o pagamento de dividendos.  Este caminho, no entanto, indicaria que o grupo não arrumou nada melhor para fazer com o caixa.

O banco poderia alocar capital em aquisições, mas não se trata de algo trivial. No Brasil, o sistema bancário está hoje nas mãos de três players privados e dois estatais, e, depois da venda do HSBC para o Bradesco, não há bancos médios capazes de ‘mover a agulha’ para nenhum dos bancos privados.

Além disso, aquisições sempre trazem um risco: quando mal feitas, consomem capital e não trazem a rentabilidade esperada para recompor o capital.

E é aí que entra a CorpBanca, um ativo relativamente de baixo risco, no qual o Itaú já é dono de 35,7% do capital e poderia aumentar sua participação.

 
“Hoje, no Corpbanca, temos 100% do downside e apenas um terço do upside,” disse o diretor de relações com investidores do Itaú durante a reunião no último dia 4.
 
Candido Bracher, que se tornará o CEO do Itaú em abril, já tem assento no conselho do CorpBanca e conhece o ativo de perto.   Além disso, o Chile passará por eleição presidencial ano que vem, e os nomes tidos como favoritos — os ex-presidentes Sebastián Piñera e Ricardo Lagos — devem melhorar o ambiente de negócios no País.
 
O banco chileno tem um valor de mercado de cerca de US$ 4,5 bilhões — e negocia próximo de seu valor patrimonial.