O Santander Brasil abriu a temporada de balanços de bancos do terceiro trimestre com números que assustaram o mercado.

Os analistas esperavam alguma piora, mas lucro, margem financeira e ROE – todos ficaram bem abaixo das expectativas.

A piora se deve a uma postura mais conservadora do banco em crédito; isso manteve a inadimplência sob controle, mas prejudicou receitas e lucro.

“O core business do banco está sob pressão,” disse um gestor. A ação abriu em queda de 8%. Os papéis de outros bancos operam em simpatia: Bradesco e Banco do Brasil caem cerca de 3% e Itaú e BTG, 2%.

A margem financeira (ou spread bancário) do Santander caiu para R$ 12,6 bilhões, ou 10,7% da carteira. Houve piora na margem com clientes e também nas operações com o mercado, que incluem a tesouraria (a perda nessas operações somou R$ 1,5 bilhão).

As operações com o mercado têm sido prejudicadas pelos juros altos.

Enquanto o Itaú historicamente roda todo o seu capital no CDI, outros bancões como Santander e Bradesco têm adotado um call mais direcional e investido seu capital em instrumentos de duration mais longo, como NTN-Bs com vencimento em 2035 ou 2050. Esse ‘mismatch’ às vezes funciona, outras vezes sai pela culatra.

Quando os juros estavam em queda, por exemplo, essa estratégia gerou bilhões de reais para estes dois bancos – um resultado que agora está sendo devolvido.

Em outro caso, um banco que estiver carregando muitos ativos em títulos ligados à inflação tende a ter se beneficiado da inflação alta no início do ano – e agora vai sofrer depois do IPCA subitamente ficar negativo depois da canetada que baixou o ICMS dos combustíveis.

O ROE do Santander ficou em 15,6%, bem abaixo dos 20,8% do trimestre anterior. O EBT foi de R$ 3,35 bilhões, longe das estimativas da maioria dos analistas. O JP Morgan, por exemplo, projetava R$ 5,29 bi.

“Decepções” superiores a 30% são raras entre grandes bancos, destacou o JP.

O lucro líquido somou R$ 3,1 bilhões, 17% abaixo das estimativas compiladas pela Refinitiv. No segundo trimestre, o lucro havia sido de R$ 4,1 bilhões

O baixo crescimento da carteira de crédito manteve a inadimplência total sob controle, em 3% (4,3% em pessoas físicas); no entanto, os analistas de Citi e JP chamaram a atenção para os elevados níveis de renegociações.

“Os resultados refletem um ajuste depois de um longo período de forte crescimento, o que deve levar a ROEs mais baixos do que os apresentados no passado recente”, afirmou o Citi em relatório. Para os analistas do banco, o preço da ação ainda não reflete esse ROE mais baixo.

“Os ciclos de crédito são longos. Difícil projetar quando o banco se sentirá confortável para voltar a crescer”, diz Renan Manda, analista-chefe do setor financeiro da XP, que tem recomendação de venda para a ação.