Quando um pequeno revendedor de roupas do interior do Brasil precisa comprar seus produtos, ele normalmente viaja horas de ônibus, fica hospedado dois ou três dias num hotel e passa todo o tempo visitando lojas do Brás ou do Bom Retiro para descobrir as “novidades” e negociar com os fornecedores.
Esse processo arcaico leva tempo, custa caro, mas ainda é o principal caminho de nove em cada dez sacoleiros — um nicho pouco lembrado do varejo brasileiro mas que movimenta mais de US$ 45 bilhões/ano.
Sacoleiro do Brás, seus problemas acabaram.
O Canal Dstak — uma startup fundada há um ano e meio — está tentando digitalizar esse processo com um marketplace B2B que conecta essas duas pontas.
“Nossa plataforma permite que o sacoleiro compre de quantos fornecedores quiser num só lugar, parcele a compra em 6x no cartão e pague o frete apenas uma vez,” o fundador Lucas Chita disse ao Brazil Journal.
Agora, o Canal Dstak acaba de levantar uma rodada de R$ 15 milhões liderada pela Valutia — o fundo de venture capital de Kiko Lumack (o cofundador da Alper Seguros e da cachaça Santa Dose) — e com a participação da americana SV Latam; da brasileira Allievo Capital; da portuguesa Shilling VC; e do multifamily office da XP.
Outros investidores da rodada foram a Verve Capital, de Marcelo Franco, que fundou e vendeu o marketplace de perfumes Sack’s para a Sephora em 2010; a Rhombuz VC, que já investiu na Loft e Merama; e a Crivo Ventures, do ex-CFO da Globopar Sérgio Marques, em seu primeiro investimento.
Além da venda offline, nos últimos anos alguns ‘sacoleiros’ e lojas multimarcas começaram a fazer suas compras por Whatsapp ou Instagram. Mas esse modelo também traz problemas: se o revendedor quiser comprar de 20 fornecedores diferentes ele vai ter que pagar 20 fretes e receber em 20 prazos diferentes.
“Além disso, eles não têm o parcelamento e a antecipação de recebíveis que oferecemos, nem o filtro que fazemos para garantir que os fornecedores são seguros,” disse Lucas.
Por enquanto, o Canal Dstak opera apenas no Brás: a startup tem um centro de distribuição que consolida os pedidos e despacha para todo o Brasil.
A plataforma — que já conecta mais de 100 mil revendedores com 400 confecções de roupas — vai movimentar R$ 15 milhões este ano, um número que deve multiplicar por 5 no ano que vem.
A receita vem de um take rate de 10% das vendas e do negócio de crédito, que inclui uma solução de ‘buy now pay later’ para os revendedores e a antecipação de recebíveis para os sellers.
Além de crescer no Brás (onde ainda tem 14 mil fornecedores para cadastrar), o Canal Dstak também vai entrar em outros pólos de vestuários e incluir novas categorias na plataforma como calçados e perfumaria.
Lucas ainda não decidiu qual será o próximo pólo, mas diz que — depois do Brás — os principais no Brasil são Goiânia e Recife.
Outro plano é começar a expandir na América Latina, com foco no México, Colômbia e Argentina, “onde o cenário é bem parecido com o do Brasil,” segundo o fundador.
Com a expansão internacional, Lucas calcula que o mercado endereçável do Canal Dstak suba dos US$ 45 bi atuais para mais de US$ 100 bi.
O Canal Dstak tem dois grandes benchmarks: a americana Faire, que atingiu um valuation de US$ 7 bi em sua última rodada; e a indiana Udaan, avaliada em US$ 3 bi recentemente.
“Na América Latina, ainda não tem nenhum grande player fazendo isso e queremos ocupar esse espaço,” disse o fundador.
A startup está entrando num mercado extremamente fragmentado, pouco profissionalizado e que sofreu brutalmente durante a pandemia — muitos desses pequenos empreendedores quebraram; outros ainda enfrentam dificuldade para se manter de pé.
“Mesmo com muita gente quebrando, ainda é uma cadeia muito pulverizada. São mais de 100 mil confecções operando no Brasil e cerca de 2 milhões de pessoas que vivem de revender esses produtos,” disse o fundador. “São pessoas simples que não entendem muito de gestão, mas é justamente aí que queremos entrar, como um aliado desse empreendedor.”