A Minerva Foods está pagando US$ 260 milhões (R$ 1,3 bi ao câmbio de hoje) pela maior companhia de cordeiros da Austrália – dobrando sua aposta nessa proteína e aumentando sua diversificação geográfica.
A compra da Australian Lamb Company (ALC) foi feita por meio da joint venture da Minerva com o fundo soberano da Arábia Saudita (Salic). A Minerva detém 65% da JV.
O valor da aquisição implica um múltiplo de 4,8x o EBITDA dos últimos doze meses, abaixo do múltiplo que a própria Minerva negocia hoje na Bolsa (5,3x).
A ALC fez uma receita de R$ 2,3 bilhões nos últimos doze meses com EBITDA de R$ 280 milhões. Considerando a proporção da Minerva na JV, a transação deve adicionar cerca de 4% de receita e 5% de EBITDA aos resultados da companhia no ano que vem – assumindo que não haja nenhum crescimento.
Com uma capacidade de abate de 3,7 milhões de cabeças por ano e market share de cerca de 12%, a ALC opera num mercado que cresce 15% ao ano, mais que os mercados de porco e carne bovina.
“É um mercado de nicho, mas que tem um alto valor agregado e margens maiores,” o CFO Edison Ticle disse ao Brazil Journal. “Além disso, ele é muito complementar ao nosso portfólio, principalmente na parte de exportação. A demanda de mercados como o Oriente Médio e o Sudeste Asiático é por carne vermelha em geral, então podemos exportar cordeiro junto com as outras carnes que já exportamos para eles.”
A Minerva já tinha outras duas plantas de cordeiros, também na Austrália, mas com uma escala significativamente menor. As duas juntas tinham uma capacidade de abate de cerca de 1 milhão de cabeças por ano.
O Itaú disse que achou o tíquete da transação “levemente acima do esperado”, mas que a aquisição “vai em linha com a estratégia de diversificação geográfica e de portfólio defendida pela Minerva.
A transação aumenta a alavancagem da Minerva em apenas 0,1 ponto para 2,2x, segundo o CFO. A ALC tem zero de dívida, US$ 50 milhões em capital de giro positivo e outros US$ 5 milhões em caixa – o que vai reduzir o desembolso da transação para US$ 205 milhões.
Para o BTG, a aquisição sozinha não muda a disciplina de capital que a Minerva tem mostrado recentemente, mas “a questão que os investidores certamente vão levantar é se um novo frenesi de M&As pode estar a caminho.”
Segundo Edison, os M&As envolvendo cordeiros já chegaram ao fim. “Vamos continuar olhando oportunidades pontuais em outras proteínas, mas sempre mantendo a disciplina financeira,” disse ele.
O CFO disse ainda que a operação “não muda em nada nossa política de dividendos e buybacks.”
De 2018 para cá, a Minerva reduziu suas ambições de crescimento e focou na desalavancagem e em aumentar a remuneração dos acionistas.
No período, a companhia desembolsou mais de R$ 1,3 bilhão em dividendos e buybacks, ao mesmo tempo em que reduziu a alavancagem de 3,9x para os 2,2x de hoje.
A ação da Minerva opera de lado, a R$ 14,19. A empresa vale R$ 8,5 bilhões na B3.