O assunto da sexta-feira na Faria Lima revolvia ao redor de uma pergunta cuja resposta parece estar próxima a emergir: quem vai comprar o Banco Votorantim?

O BV — como o banco foi recentemente rebatizado — teve seu IPO adiado pela segunda vez no início do ano, e é sabidamente um ativo em desinvestimento por seus dois controladores: o Banco do Brasil e o Grupo Votorantim.

O BV tem um patrimônio líquido de cerca de R$ 11 bilhões, e analistas estimam que uma venda deveria sair a um múltiplo em linha com o do Bradesco ou Banco do Brasil, o que daria cerca de R$ 17-18 bilhões.

O BV tem uma posição de liderança que rivaliza com o Santander no financiamento de automóveis, bem como uma série de iniciativas digitais, sendo a principal delas sua participação no Banco Neon, a quem o BV inclusive provê infraestrutura digital. 

Apesar de sólido, o BV ainda possui desafios de rentabilidade, e não está claro como vai performar fora do guarda-chuva societário atual.

Os boatos apontam diversos nomes como capazes de fazer essa consolidação — todos, porém, com desafios importantes na empreitada — mas a narrativa favorita tem sido a de que um dos novos players do setor financeiro comprará o banco.

A XP — o comprador favorito, se você acreditar na bolsa de apostas — teria que fazer um esforço financeiro gigante, provavelmente esticando demais a corda de seu balanço e tendo o risco de ficar parecida demais com um banco tradicional, na opinião de analistas ouvidos pelo Brazil Journal.

Além disso, crédito ainda é uma área nova para a corretora, e não está claro o apetite de Guilherme Benchimol por fazer uma aposta bilionária numa área onde o grupo não tem experiência.

A Stone, que acabou de comprar 4,99% do Inter, poderia ver na aquisição um caminho de aumentar sua oferta de crédito e completar seu ecossistema numa direção original. Eventualmente, a aquisição poderia ser feita em conjunto com o Inter, o que tornaria mais palatável o esforço financeiro.

Mas fontes próximas à XP e à Stone negam interesse na transação.

O Nubank, que já digeriu a Easynvest e tem muita facilidade de levantar capital, poderia se movimentar com o objetivo de remunerar sua sólida base de depósitos — que cresce sem parar mas ainda não entrega rentabilidade aos acionistas. O risco aqui seria contaminar o ‘equity story’ na hora em que se tornar um banco mais tradicional.

Já a Pagseguro vem participando de vários processos de aquisição, mas nunca de maneira agressiva, e Luiz Frias provavelmente teria dificuldade de levantar todo o equity necessário para a operação dado seu market cap menor que os outros players objetos da especulação.

O Banco Pan seu controlador, o BTG Pactual, provavelmente teriam conjuntamente o capital e o funding para a aquisição, mas o BTG acaba de fazer uma oferta de ações onde sinalizou a continuação de sua estratégia de aquisições de médio porte.

Além disso, apesar das sinergias com o Pan, a aquisição geraria uma concentração talvez indesejada no mercado de automóveis num momento em que o Pan diversifica digitalmente sua estratégia.

O Santander, por sua vez, teria enormes sinergias dado sua liderança no mercado de financiamento de veículos — mas certamente encontraria complicações no CADE.

Itaú e Bradesco historicamente são menos interessados no mercado de automóveis e, no momento em que o regulador promove maior competição no sistema, dificilmente seus nomes teriam chances de aprovação como compradores.

O enigma que eletrizou o mercado na sexta-feira continua no fim de semana, mas quando for decifrado pode ser uma grande surpresa.