Com o quadro fiscal deteriorado depois da lambança do Orçamento, o mercado está voltando a discutir a tese de “dominância fiscal”, um assunto que estava fora de moda desde o Governo Dilma.
Segundo essa tese, quando o País perde sua âncora fiscal, a política monetária passa a ser um problema: ou o aumento dos juros deixa de ser eficaz no controle das expectativas de inflação, ou ainda piora as coisas — já que quanto mais alta a Selic mais cara fica a rolagem da dívida pública.
Em momentos assim, alguns participantes do mercado passam a usar o espectro da dominância fiscal para pressionar o Banco Central a ser comedido na alta dos juros.
Mas num research publicado hoje, a economista-chefe do Credit Suisse, Solange Srour, diz que o BC precisa fazer o que tem de ser feito, sob o risco de perder credibilidade.
Solange diz que o Brasil não está em dominância fiscal: a prova disso é que, depois que o BC aumentou a Selic em 0,75 ponto percentual, as inflações implícitas nas NTN-Bs longas pararam de subir.
“Quando você está em dominância fiscal, não dá mais para fazer ajustes,” Solange disse ao Brazil Journal. “O Brasil ainda consegue, mas estamos desperdiçando as chances, primeiro com a PEC Emergencial, depois com essa barbeiragem no Orçamento.”
Cada alta de 1 ponto na Selic aumenta o custo da dívida pública em 0,4% do PIB ao longo de 12 meses. Mas o pior não é isso. O problema é que toda a curva de juros está esticada, com a taxa de 10 anos próxima de 9%, o que dificulta a rolagem da dívida do Tesouro.
“Temos que colocar a dívida pública em trajetória declinante; sabemos disso, o que falta é fazer,” diz Solange.