O Credit Suisse Hedging-Griffo — a plataforma de private banking do Credit Suisse — está recomendando aos clientes que aumentem sua alocação na Bolsa.

Numa teleconferência com clientes hoje de manhã, a equipe do banco listou seus motivos para estar confiante: a trajetória do juro no Brasil é descendente, as reformas fiscal e previdenciária têm amparo político, e a liquidez internacional vai continuar, mesmo com o início do aperto monetário pelo Fed.

O CSHG administra e aconselha clientes de altíssima renda na gestão de cerca de R$ 90 bilhões.

No mesmo andar da Leopoldo Couto Magalhães, Luis Stuhlberger, o gestor do fundo Verde, continua cético. Hoje, 90% do Verde estão aplicados na NTN-B [um título público corrigido pela inflação], e a alocação do fundo em Bolsa é zero, comparada a uma média histórica de 20% a 30%.

A recomendação vem num momento em que os investidores brasileiros (as pessoas físicas e os institucionais) estão com a menor exposição à Bolsa do pós-Real — e marca uma mudança de postura do segundo maior private banking do Brasil, com impacto em um número grande de clientes.

 
Por enquanto, os investidores locais continuam olhando a Bolsa de lado.  A maior parte dos fundos de pensão mantem alocação mínima em ações, e continuam comprados em títulos de renda fixa ligados ao juro real. 

A Valia, que tinha 24% de seu patrimônio em Bolsa em 2011, no final do ano passado tinha menos de 4%.

A Funcesp hoje tem 10% de seu patrimônio em ações; há quatro anos, tinha 20%.

Dados da Bovespa mostram que, até 29 de agosto, o fluxo de investidores locais para a Bovespa ainda era negativo no ano.  Coletivamente, pessoas físicas e investidores institucionais locais sacaram, em termos líquidos, R$ 18 bilhões da Bolsa este ano. No acumulado desde 2011, o número chega a quase R$ 100 bilhões.

 
“As fundações e famíias brasileiras só venderam renda variável nos últimos três anos, e com toda razão: com juro real acima de 6%, é para ter zero em bolsa,” diz um gestor.

De acordo com dados da Anbima, o patrimônio líquido dos fundos de ações também está no menor nível dos últimos 10 anos:  apenas 9% de todo o dinheiro investido no Brasil está nos FIAs, contra 22% em 2007 e 15% em 2010.

No conjunto, os dados mostram que o rali da Bovespa pós-impeachment foi em sua maior parte ‘powered by gringos’, enquanto os locais (que viveram a crise de perto) continuam pagando pra ver, investidos no conforto da renda fixa.

Até o fechamento desta quarta, a Bovespa está em alta de 46,5% este ano.

Esta baixa alocação a ações — aliada ao rali que já aconteceu — é uma boa notícia para o mercado de IPOs.  Se as coisas derem certo como o CSHG prevê e os locais se convencerem, vai faltar papel…

 
A ideia de que a hora da Bolsa chegou já tem outros convertidos.  O BTG Pactual analisou a série histórica do Ibovespa (em dólares) até chegar aos anos 1980 e encontrou vários ralis de longa duração, geralmente desencadeados por grandes eventos políticos que levaram o Ibovespa a ter um desempenho excepcional. (ver gráfico acima)
 
Segundo os estrategistas do banco, a última alta sustentada (antes da atual) começou pouco antes da primeira eleição de Lula, quando o então candidato publicou a ‘Carta ao Povo Brasileiro’, comprometendo-se com políticas de mercado. A alta durou seis anos — o Ibovespa se multiplicou 19x no período — e só acabou na crise global de 2008.  Antes disso, o impeachment de Collor em 1990 iniciou um rali que durou seis anos e meio, e levou o Ibovespa a se multiplicar por 30, em dólares!
 
A dúvida agora é se o impeachment da Presidente Dilma começou outro longo ciclo. Tudo vai depender do sucesso do atual governo… e dos eleitores não fazerem m#$%@ em 2018.