A Prio acaba de anunciar que está comprando 40% do campo de Peregrino, pagando US$ 1,91 bilhão pela participação que pertencia à chinesa Sinochem. 

A transação vai aumentar em 40% a produção diária da Prio, acrescentando 36 mil barris/dia aos 85 mil que a empresa produz hoje.

Já as reservas 1P da companhia aumentarão em 20%. A Prio hoje tem reservas de 600 milhões de barris, e a aquisição adiciona outros 135 milhões. O campo tem seu abandono estimado para perto de 2040.

A Equinor – dona dos outros 60% do campo – tem 30 dias para exercer seu direito de preferência, algo que a Prio considera improvável.

O CEO Roberto Monteiro disse ao Brazil Journal que a maior sinergia da transação é na comercialização dos barris.

“Os barris desse campo são vendidos hoje em lotes de 650 mil barris, e embarcados em navios com capacidade para levar 1 milhão de barris. Então, ele acaba levando o óleo com uma ociosidade,” disse Roberto. “Com a aquisição, a gente vai encher os navios com os 350 mil barris que faltam, de outros campos nossos, otimizando o custo de frete.”

A expectativa da Prio é que essa otimização gere um ganho de frete de cerca de US$ 4, com o barril sendo vendido a um desconto de US$ 12 a US$ 10,5 em relação ao Brent. 

O campo de Peregrino é vizinho de Tubarão Martelo e Polvo, os dois campos de águas rasas da Prio. Mas como a companhia não será a operadora do ativo — cujo controle é da Equinor — ela não conseguirá extrair sinergias operacionais. 

Como parte da transação, a Prio passará a ter o right to match, podendo cobrir qualquer oferta que a Equinor receber por sua participação no futuro. 

A Prio não terá que desembolsar os US$ 1,91 bi. A chamada “data efetiva” da transação é 1º de janeiro deste ano, o que significa que a companhia descontará do preço final a geração de caixa que a Sinochem recebeu do ativo de lá para cá. 

A estimativa é que essa geração de caixa gire em torno de US$ 300 milhões a US$ 400 milhões, reduzindo o valor a ser pago para entre US$ 1,7 bi e US$ 1,6 bi.

O múltiplo da transação ficou na casa dos US$ 14 por barril, ligeiramente acima do múltiplo que a própria Prio negocia na Bolsa (US$ 11). A companhia fechou o dia valendo R$ 38 bilhões na Bolsa.

Há, no entanto, um benefício não capturado pelo múltiplo. A Prio está comprando a subsidiária da Sinochem que opera Peregrino, que tem um prejuízo acumulado de US$ 650 milhões. A companhia poderá usar este valor para reduzir sua base tributável ao longo dos próximos anos. 

O CEO da Prio disse que a TIR esperada para o projeto é de 20% desalavancada em dólar. 

A transação vai aumentar a alavancagem da Prio de 0,4x EBITDA no final do segundo tri para 1,2x EBITDA, mas ela deve voltar para próximo de zero no final do ano que vem graças à geração de caixa da operação. 

Para bancar a transação, a Prio levantou linhas de crédito somando mais de US$ 1 bilhão – com prazos de dois a três anos – com o BTG, Citi, Santander e Itaú. 

A ideia da companhia é refinanciar esse bridge loan com uma debênture e um bond quando as condições de mercado se apresentarem.

Além da Prio, diversas outras empresas participaram do processo de venda de Peregrino, incluindo a Brava (a fusão da 3R com a Enauta), Karoon, KUFPEC (a estatal do Kuwait), a norueguesa BW Energy, e o private equity Fifth Oceans Group. 

A Prio foi assessorada pelo Bank of America e o Tauil & Chequer Advogados.

A Sinochem foi assessorada pelo Jefferies.