O Itaú Unibanco anunciou ontem sua entrada no setor de benefícios com a compra de uma participação minoritária na Ticket Serviços, a terceira maior do setor. O acordo preenche uma lacuna na prateleira de produtos do banco e o insere num segmento que ganhou fôlego novo com a reforma trabalhista.

Pelo acordo, o Itaú ficará com 11% da Ticket Serviços — parte disso será integralizado em cash e parte por meio de um contrato de exclusividade de distribuição no canal bancário. A Ticket é controlada pelo grupo francês Edenred. O banco passará a distribuir apenas produtos da Ticket, como vales-alimentação e refeição, à sua base de clientes pessoas jurídicas. (A operação não afeta outros acordos comerciais da Ticket, que continuará a distribuir seus produtos por outros parceiros).

O movimento vem pouco mais de um mês depois de o Santander anunciar a criação de uma empresa própria de benefícios — a Ben, que vai relançar a marca Visa Vale. O Santander já começou a credenciar estabelecimentos e a expectativa é de que a companhia esteja operacional no ano que vem. 

Já o Banco do Brasil e o Bradesco estão no setor há mais de dez anos com a marca Alelo – nascida da CBSS, antiga gestora dos cartões Visa Vale, e que se tornou líder de mercado.

“O Itaú está correndo atrás, porque Bradesco, BB e agora Santander oferecem um produto para clientes corporativos que ele não tinha”, diz um analista.

O Itaú estava trabalhando para desenvolver sua empresa própria de benefícios há mais de um ano e, segundo fontes, chegou a firmar parceria com uma startup para tentar avançar no setor. Mas optou pela parceria com a Ticket, que já conta com uma ampla aceitação nos estabelecimentos comerciais. 

O Itaú e a Ticket tem um relacionamento próximo. A Rede, que pertence ao banco, era a única adquirente a processar as transações com os cartões Ticket antes da abertura do mercado.

A entrada do Santander e do Itaú em benefícios é uma tentativa de aumentar a fidelização de clientes num momento em que a concorrência extravasa o mundo dos bancões e começa a vir também de fintechs e bancos digitais. “Um cliente que tem a sua folha de pagamento no banco vai pensar mais antes de mudar se tiver também a oferta de benefícios atrelada ao banco”, diz outro executivo. 

O site do Ben, por exemplo, já deixa clara as vantagens para estabelecimentos comerciais que aceitarem o benefício, tiverem conta corrente no Santander e utilizarem as maquininhas GetNet: “isenção de tarifas de conta corrente por até 6 meses para novos clientes Santander”, “descontos progressivos no aluguel das máquinas da GetNet conforme volume de vendas” e “antecipação das suas vendas com excelentes taxas”.

Para a Ticket, a parceria é uma forma de tentar retomar participação de mercado. A empresa entrou no Brasil em 1976 e foi por anos a líder disparada, virando sinônimo de categoria numa época em que o benefício ainda era pago em talões de papel. 

Em vale-alimentação e refeição, que respondem pela maior parte do total movimentado pelo setor, a Alelo hoje tem uma participação de 31,5%. A Sodexo vem em seguida com 28%, e a Ticket ocupa a terceira posição com um share de 24%. 

Além do potencial de retenção de clientes, Itaú e Santander estão entrando num setor impulsionado pela reforma trabalhista, que abriu uma variedade de novos serviços a serem oferecidos por meio de vales.

A reforma permite, por exemplo, que bonificações ou vales-saúde sejam pagos via cartão sem que sejam considerados salário — e, portanto, ficando livres de tributos como o INSS. A Alelo estima que o mercado de benefícios, que hoje movimenta cerca de R$ 170 bilhões por ano, pode triplicar nos próximos anos com a mudança.

Resta saber qual será a posição do CADE em relação à verticalização do setor. O negócio entre Itaú e Ticket ainda depende da aprovação do órgão antitruste e do Banco Central.

“O CADE tem recebido várias denúncias sobre a atuação do Bradesco e do BB com a Alelo, relacionadas à venda casada. Esse acordo vem na contramão do que o órgão vem sinalizando”, afirma Fabricio Winter, sócio da consultoria de varejo financeiro Boanerges & Cia. “Como é uma participação minoritária, o mais provável é que ele aprove, mas pode haver restrições.” 

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