Nos últimos dois meses, a ação do Banco Inter dobrou de valor — e o volume negociado também subiu de R$ 3 milhões para R$ 30 milhões por dia.

Tudo indica que a performance da ação está ligada a um desempenho operacional melhor que o esperado, à entrada de novos investidores no papel e a um float reduzido.

O Inter, que começou o ano com 300 mil correntistas, deve ultrapassar a marca de 1 milhão de clientes ainda esta semana e, se mantiver o ritmo atual, deve facilmente ultrapassar 2 milhões já no ano que vem. Para muitos acionistas, além de resultados crescentes, ao ganhar escala o Inter terá um ‘valor estratégico’ em menos tempo do que se espera.

Depois de fechar junho com 741 mil contas, na teleconferência em agosto o banco disse aos investidores que, na margem, já estava adicionando quase 100 mil clientes novos por mês. Pelo SimilarWeb, serviço por assinatura que mede a audiência de sites e downloads, é possível ver que o crescimento dos ‘daily active users’ do app do Inter se acelerou a partir de maio.
Ajudando o vento a favor, o Inter tem se beneficiado da portabilidade das contas-salário, que começou a ser facilitada em julho, graças a uma interface de usuário que retirou a fricção do processo de migração. De acordo com uma pessoa a par dos números, a portabilidade fez o Inter ganhar mais de 20 mil contas no primeiro mês, e a taxa teria se mantido em agosto.

 
O Inter também está crescendo seus depósitos à vista — um indicativo de que o cliente está de fato usando a conta corrente. No trimestre terminado em junho, o Inter tinha R$ 353 milhões de depósitos à vista (vs. R$ 18 milhões do Agibank, e R$ 162 milhões do Original, por exemplo). Um ano antes, o Inter tinha R$105 milhões em depósitos à vista (vs. R$ 3 milhões do Agibank, e R$109 milhões do Original).
 
O CEO João Vitor Menin parece focado em aumentar a prateleira de produtos para ganhar mais ‘share of wallet’ da liquidez dos clientes. Recentemente, o Inter contratou Rafael Rodrigues, um ex-sócio da Rio Bravo, para liderar sua área de investimentos.  A ideia é construir um supermercado financeiro — ampliando a oferta de fundos de terceiros e produtos estruturados — com uma plataforma aberta, e lançar um homebroker ainda este ano. 
 
A alta na ação mostra que os investidores estão cada vez mais disposto a atribuir ao Inter um múltiplo de empresa de tecnologia, em vez dos múltiplos mais moderados reservados a bancos — um processo de reprecificação parecido com o do Magazine Luiza ao longo de 2017.
 
No preço atual, o Inter negocia a 25 vezes o lucro estimado para o ano que vem.  O banco vale R$ 3 bi na Bolsa, 3x seu valor patrimonial.
 
Mas a alta do papel também é potencializada por um fator técnico: muito pouco do capital do Inter está efetivamente em circulação. A família Menin tem 58% do capital total, e minoritários históricos têm 5,6%.  As gestoras Atmos, Squadra, Ponta Sul, BlackRock e Deutsche Bank têm juntas cerca de 27% do capital total.  Se todos eles tiverem encarteirado o papel, apenas 12,7% do float está sendo negociado, gerando pouca pressão vendedora para atender aos compradores.
 
Da mesma forma, os ganhos recentes da ação levam a um ciclo virtuoso:  um valor de mercado maior permite que novos investidores comecem a comprar o papel, retroalimentando a liquidez diária.
 
O sellside, para variar, está atrás da curva e não participou do movimento de alta. Hoje, poucos analistas cobrem o Inter —  todos de bancos que participaram do IPO.  Bradesco e Citibank têm preços-alvo que já ficaram para trás. Já o Morgan Stanley cortou a ação para ‘underweight’ logo depois do IPO.