“Um governo não precisa de tapinha nas costas. Um governo tem que ser cobrado todo santo dia para que a gente consiga aprimorar a nossa capacidade de trabalho. Cobrem, cobrem e cobrem.” – Lula, dezembro de 2022

O setor de turismo está tentando revogar a decisão do Governo Lula de voltar a exigir visto de entrada para turistas dos Estados Unidos, Japão, Canadá e Austrália.

A Confederação Nacional de Turismo disse que a medida “terá efeitos terríveis”. Para a FecomercioSP, a volta da exigência do visto – que havia sido retirada pelo Governo Bolsonaro – prejudica a competitividade do Brasil na região, já que Colômbia, Chile, Argentina e Peru não exigem visto dos americanos.

Como a política brasileira traz mais surpresas que esteira de aeroporto, o setor precisará de Marcelo Freixo, o novo presidente da Embratur, para convencer o Presidente Lula a rever a decisão.

Em 2019, Freixo foi bastante vocal contra a isenção de visto para os americanos. À época, o então deputado federal declarou que acabar com a exigência de visto para turistas dos EUA sem nenhuma contrapartida era ser “submisso e bajulador.”

É difícil entender porque o Presidente Lula está tomando uma medida carregada de simbologia política – mas que prejudica milhares de trabalhadores brasileiros, de taxistas a funcionários de hotéis, de bares a restaurantes.

O brasileiro gosta de picanha, mas também não dispensa uma gorjeta em dólar.

Mesmo após a devastação causada pelo confinamento da pandemias e suas variantes – sem falar no cancelamento de congressos e seminários e a realização de conferências por zoom – a indústria de turismo movimentou R$ 152 bilhões no ano passado.

“É uma decisão completamente equivocada, uma lei de talião,” diz o presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas, Eduardo Sanovicz. “Posso não gostar que os EUA exijam o visto para nós, mas não me consta que na Califórnia ou na Flórida haja um movimento de imigração ilegal em massa para o Brasil.”

Para o fundador da Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico do Brasil (ADIT) e ex-diretor da indústria de turismo do Secovi-SP, Caio Calfat, que há mais de 30 anos trabalha no ramo da hotelaria, a medida “vai dificultar mais ainda o que já é o nosso maior desafio: aumentar o nosso número de visitantes internacionais, especialmente o norte-americano, que historicamente vem ao Brasil a negócios, não a lazer. É uma medida retrógrada.”

Em 2021, em plena pandemia, os americanos chegaram a ultrapassar os argentinos como o maior grupo de estrangeiros a entrar no Brasil como turistas – em parte graças ao lockdown na Argentina.

No ano passado, com as coisas voltando ao normal, ainda assim o País recebeu 400 mil turistas americanos, metade dos 800 mil argentinos – mas à frente de paraguaios, chilenos e portugueses.

No ano passado, o Brasil recebeu 3,6 milhões de turistas estrangeiros – menos que a Colômbia (4,6 milhões) e a Argentina (3,9 milhões). Até o Chile, com um território exíguo, recebeu 2 milhões.

A indústria estima que os turistas internacionais gastam entre US$ 3 bi e US$ 4,5 bi no País todo ano – menos de um terço do que países como Tailândia, Vietnã, Índia, Coreia e Singapura faturam com o turismo internacional.

Em janeiro de 2023, com sinais de retomada nas viagens aéreas, o País recebeu 868 mil visitantes de fora. Na Argentina, foram 1,16 milhão.

A pressão do setor deve ser mais pronunciada em um evento do Ministério do Turismo no dia 22, em Brasilia. O G20+, que reúne as 20 maiores entidades do setor, já solicitou que o tema dos vistos integre a pauta do encontro.

As associações do setor aéreo já reclamaram aos ministros Rui Costa, da Casa Civil, Márcio França, dos Portos e Aeroportos, além do próprio Freixo e do presidente da Apex, Jorge Viana.

Por trás da insistência em exigir o visto está o Itamaraty, que alega que a isenção “não elevou tanto” o número de visitantes procedentes desses países, e que tal isenção é ruim para negociar o mesmo para os turistas brasileiros que queiram ir para os EUA, por exemplo.

Em outras palavras: para supostamente defender o interesse do andar de cima – que pode viajar a Miami e Nova York – o Itamaraty prejudica a fonte de renda de milhares de brasileiros mais humildes.

Muitas vozes no setor concordam que, de fato, o Brasil não soube promover o País nesse período. “Boa parte do período de isenção se deu durante a pandemia, que foi trágica para as viagens a lazer e a negócios”, diz Calfat.

“O Brasil nunca superou os 7 milhões de visitantes estrangeiros em qualquer ano, um número modesto, e isso é o que nos deveria preocupar nesse momento de retomada.”

Para Sanovicz, da associação das aéreas, a Embratur passou por um momento “muito ruim” no governo passado e não investiu nada em promoção. “Agora o Freixo montou um dos melhores times que a Embratur já teve, mas o Governo está amarrando uma bola de ferro nos pés dela.”