Tocar uma obra dá dor de cabeça. Imagina 50 ao mesmo tempo. Ou 350 por ano – tendo que administrar 5 mil operários simultaneamente. 

Esta é a rotina do Athié Wohnrath, que nos últimos anos se tornou o maior escritório de arquitetura do país. 

É verdade que o AW nunca foi capa da Monolito e tampouco sonha com um Pritzker (o Oscar da arquitetura), mas apesar de estar distante do mundo glamouroso da arquitetura autoral, o Athié se tornou um household name quando se trata de projetos corporativos.

10784 573227c4 853e fe9c ca06 8e450fba19caO escritório assina mais de 50% das reformas de lajes corporativas triple-A em São Paulo e no Rio. Em prédios icônicos como a São Paulo Corporate Towers (as ‘torres da Camargo Corrêa’ em frente ao JK Iguatemi), 80% dos andares têm a assinatura do escritório.

Do novo prédio do Bradesco — na esquina da Faria Lima com a JK — à nova sede da Nestlé, da Melicidade (a sede do Mercado Livre) à agência WMcCann, é difícil encontrar uma grande empresa, banco ou escritório que não tenha sido cliente do Athié.

Os números do AW impressionam: são 850 funcionários – sendo 300 arquitetos e 450 engenheiros. Neste ano, o escritório deve fechar contratos que totalizam pelo menos R$ 1,1 bilhão (ou mais, se a economia acelerar no quarto trimestre).

Para Sérgio Athié, a estética dos projetos tem que estar alinhada com a estratégia e o posicionamento do cliente no mercado. Ou seja, “tem que ter a cara do cliente – e não a do Athié”.

Mas uma coisa os projetos têm em comum: o desejo de melhorar o fluxo de trabalho e garantir um maior aproveitamento do metro quadrado.

Cada vez mais, os espaços corporativos adotam o conceito de clean desk – sem mesas fixas – com armários para as pessoas guardarem seus pertences.

Essa transformação é resultado da disseminação da metodologia “agile”, que trabalha com o conceito de squads – times multidisciplinares que se reúnem em uma sala para tocar um projeto do início ao fim.

O conceito é usado na própria sede do AW, que ocupa cinco andares de um prédio no Brooklin: durante a execução de cada projeto, um time composto por arquitetos, engenheiros, financeiro e planejamento dividem uma mesma sala.

Sérgio Athié e Ivo Wohnrath se conheceram nos anos 80. Trabalharam juntos na Escriba, uma fábrica de móveis de escritório.

Sérgio, formado em arquitetura no Mackenzie, saiu em 1989 para montar o próprio escritório com outros dois arquitetos. Cinco anos depois, Ivo também deixou a Escriba – e foi convidado por Sérgio para se juntar à sociedade. Mais tarde, os outros sócios saíram, e o escritório foi rebatizado com o nome atual.

10785 d6aa6edc 4ccf 1dfb e9fd 3fc1ccc346d6“No início a gente atuava um pouco em cada área da arquitetura. Mas numa visão de administração, provoquei a reflexão se a gente não deveria focar em um segmento e buscar ser o melhor nele,” diz Ivo, que é formado em administração pela FGV. A escolha pelos interiores corporativos foi natural.

O escritório começou fazendo “lojinhas”, diz Sérgio. Em seguida, agências bancárias, quando os bancos começaram a terceirizar as reformas. Depois, vieram as pontocom – com pressa de se estabelecer.

Com o tempo, o AW se verticalizou, incorporando serviços como automação, hidráulica, instalação de ar condicionado, suporte para compra de materiais e o gerenciamento das construtoras. 

Ivo conseguiu profissionalizar a obra, desenvolvendo mecanismos de gestão e controle em todas as etapas, do projeto à entrega da chave – o modelo de turnkey. Uma vez acertado o projeto, prazos e budget, o cliente só aparece na hora de se mudar.

“Desenvolvemos fornecedores capacitados a operar dentro de prazos agressivos, mas com capacidade de entregar com qualidade. E com uma lógica de pulmão. Se um fornecedor falha, temos outros homologados,” diz Ivo.

Hoje esse trabalho se sofisticou: o AW controla até mesmo as condições trabalhistas de 12 mil operários terceirizados. 

Se um funcionário não está em dia com os treinamentos e certificados de normas de segurança de trabalho, sua entrada na obra é bloqueada.  Cada fornecedor também tem seu desempenho monitorado.

Apesar de encantar os clientes, o modelo de negócios do Athié não faz amigos entre os arquitetos. A estrutura verticalizada – em que o escritório ganha não só no projeto, mas também com a obra e com as comissões de fornecedores – dá ao Athié uma vantagem competitiva que torna difícil a vida dos escritórios que só ganham dinheiro com o projeto.

Hoje o AW vai muito além dos interiores: projeta e constrói fábricas, galpões e edifícios corporativos, além de executar obras de edificações desenhadas por outros escritórios. 

A empresa também tem investido em projetos para hospitais e escolas, como o novo Colégio São Luiz, a ser construído na região do Ibirapuera, e o novo prédio do Insper na Vila Olímpia. 

Uma outra frente é a de incorporação, com a criação da AW Realty. Já são dois projetos na carteira: o The Beach, um residencial de veraneio em Florianópolis, e o Bothanica, de townhouses, no Alto de Pinheiros.  Nos dois empreendimentos, o AW incorporou e realizou a obra, mas não fez o projeto.