Quem já usou algum programa de fidelidade conhece a dor de cabeça: muitas vezes, os pontos expiram antes de você conseguir usar, ou você é obrigado a trocá-los por um produto que não quer só para não perder o que acumulou.
“Esses programas tradicionais vivem do não-uso daquela moeda,” disse Christiano Ranoya, o fundador da PontoE, um novo programa de fidelidade que está tentando chacoalhar um mercado dominado por gigantes como Livelo e Smiles. “A gente quer fazer o contrário: fomentar cada vez mais o uso.”
Na PontoE, os pontos não expiram nunca e podem ser doados para outras pessoas. Mas tem um ‘catch’: os pontos só podem ser usados para cobrir gastos envolvendo a educação — seja o pagamento da faculdade ou a compra de livros didáticos ou de um computador.
“Quando eu junto várias empresas em torno de uma causa em comum, que é a educação, elas cumprem uma agenda ESG ao mesmo tempo em que geram valor para seus clientes, que ficam fiéis às marcas,” disse o fundador.
A startup já fechou parcerias com as maiores indústrias do Brasil — incluindo uma grande montadora, uma fabricante de produtos de tecnologia, grandes empresas de bens de consumo e grupos de educação — permitindo que os usuários troquem pontos em praticamente qualquer compra que fizerem.
Para isso, a PontoE teve que vencer uma barreira tecnológica: desenvolver do zero uma ferramenta capaz de ler todas as notas fiscais e extrair informações de lá usando inteligência artificial e machine learning.
Na prática, o usuário precisa apenas subir a nota fiscal no app. A partir disso, a solução da startup vai identificar automaticamente os produtos daquele recibo que são de algum fabricante parceiro e dar pontos para o cliente por essas compras.
Segundo Christiano, a taxa de assertividade da inteligência artificial da PontoE vai de 80% a 98%. Quando ela fica em 80%, a informação entra de novo no modelo, buscando aprimorá-lo.
“O brasileiro compra carne, leite e feijão, mas a indústria tinha dificuldade de se relacionar diretamente com o cliente, porque ela não o conhece. Ela dependia muito dos grandes varejistas,” diz ele. “Com o nosso programa, eles vão poder ter esse relacionamento direto.”
A plataforma da PontoE ficou pronta há três semanas, e a startup está finalizando o processo de integração com os parceiros. A expectativa é que o programa seja lançado oficialmente na primeira semana de março. (A data foi pensada para coincidir com a volta às aulas).
A startup nasceu de um spinoff da Indico, uma empresa de marketing de relacionamento criada há quase 10 anos por Christiano e que atende empresas como McDonald’s, Coca-Cola, Banco BMG e Marisa.
Para tirar a ideia do papel, o empreendedor trouxe outros quatro sócios: Pedro Assunção, um ex-vp do Grupo ABC; Tarek Farahat, ex-presidente da P&G Brasil e membro do conselho da WPP; o empresário Eduardo Foz; e Carolina Guedes, a fundadora do Quintal de Trocas.
O business plan da PontoE é ambicioso: em três anos, a empresa espera distribuir R$ 3,4 bilhões em pontos, ficando com uma receita somada de cerca de R$ 300 milhões no período.
No terceiro ano, a expectativa da PontoE é faturar R$ 180 milhões com um volume de R$ 2,4 bi.
As premissas para a projeção: ter 3 milhões de usuários na plataforma, que gastarão em média R$ 1.800 por mês nos parceiros da PontoE.
A receita da PontoE virá de uma comissão em cima dos pontos acumulados. Sempre que um parceiro pagar R$ 100 em pontos para um usuário do programa, o cliente ficará com R$ 90, o PontoE com R$ 9 e R$ 1 será doado para ONGs ligadas à educação.