9 de ago, 2023
Depois de um “início complicado”, o governo vive o seu melhor momento na economia, afirma Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual e ex-secretário do Tesouro. “Começamos o ano com uma piora fiscal de quase R$ 400 bilhões sem saber ao certo qual seria o plano do governo.”
As novas regras fiscais e a manutenção da meta de inflação em 3% aplacaram duas das principais incertezas que pesavam sobre o mercado. Nas contas públicas, “não é certo que o governo vai entregar o que prometeu”, mas o arcabouço retirou o risco de explosão dos gastos e da dívida pública.
Mansueto adverte, contudo, que o desafio fiscal não foi superado. Pelas suas projeções, o cumprimento das metas fiscais apresentadas pelo ministro Fernando Haddad exige uma arrecadação adicional de R$ 200 bilhões ao ano, algo difícil de ser alcançado em razão da “dinâmica política muito difícil”.
Para o economista, não se sabe como o governo vai sair de um déficit primário estimado em mais de R$ 100 bilhões neste ano para o déficit zero prometido para 2024 sem elevar impostos, apenas reduzindo desonerações. “Em algum momento, o governo vai testar o apetite da sociedade e a vontade do Congresso para aumentar a carga tributária”, diz Mansueto.
A chance de o Brasil ter redução na carga de impostos nos próximos anos é “zero”, afirma, mas ao mesmo tempo é incerto que os congressistas aceitem aprovar novos tributos. Segundo ele, é improvável que, no atual cenário de déficits recorrentes e dívida em alta, o Brasil reconquiste o grau de investimento. “O governo vai ter que fazer o que prometeu e entregar um pouco mais.”
Sobre os receios de que a nova composição do Copom possa ter um perfil mais dovish, Mansueto afirma que “o Brasil é um país que não pode brincar com inflação”.
A equipe do BTG projeta uma desaceleração da economia no próximo ano, com um crescimento do PIB estimado em 1%. O número mais “conservador” é uma consequência dos juros reais ainda elevados, ao redor de 6,5% no início de 2024. “Vai machucar a economia”, diz Mansueto. Mas ele reconhece que há muita incerteza nas estimativas, podendo haver novamente uma surpresa positiva, com uma expansão do PIB em torno de 2%.