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Jerson Kelman sobre o conflito Israel-Palestina: “Não podemos ser dominados pela emoção”

25 de jun, 2025

Por mais de uma hora, Jerson Kelman – engenheiro civil, ex-presidente da Sabesp e da Aneel – falou com o economista Marcos Lisboa sobre um tema tão delicado quanto urgente: o conflito entre Israel e Palestina. “Talvez o fato de eu não estar nos extremos permita uma conversa mais construtiva”, afirmou.

O ponto de partida foi o choque do 7 de outubro de 2023. “O sentimento foi de que Israel – o porto seguro dos judeus – estava ameaçado.” Mas a indignação com o ataque do Hamas deu lugar a outro sentimento: o desconforto com a resposta israelense. “A meta de libertar os reféns é moralmente correta, mas não a esse custo.”

Ao longo da conversa, Kelman se debruçou sobre as raízes históricas do conflito. Citou a partilha da Palestina de 1947, a Guerra de 1948 e a Nakba – a expulsão de cerca de 700 mil palestinos de suas terras. “É natural que, para os árabes, o sentimento seja de ‘vieram resolver um problema europeu nas minhas costas’,” disse. “E a chave da casa, símbolo de quem foi expulso, virou uma força política.”

Kelman reconhece que Israel também acolheu cerca de 800 mil judeus expulsos de países árabes após 1948. “Mas esses judeus foram assimilados por Israel,” afirmou. “Os palestinos, por sua vez, não foram absorvidos pelos países árabes vizinhos, porque se manteve viva a ideia do retorno.”

Para Kelman, esse é um dos grandes entraves à paz. “A tese do retorno impede a solução de dois Estados,” disse. “Você não pode pedir que Israel aceite uma cláusula que, na prática, significaria seu próprio fim como Estado judaico.”

Para Kelman, a solução é a criação de dois Estados para dois povos. “É dificílimo, mas não existe outra saída.” Ele finalizou com um apelo à razão. “O que a gente não pode é ser dominado pela emoção. Eu penso nos reféns e fico com raiva. Você pensa nas privações na Cisjordânia e também fica,” disse a Marcos Lisboa. “Mas se a gente não tiver o desejo de paz, se não houver o reconhecimento do outro, a tragédia só vai continuar.”

O videocast Lado B também está disponível no Spotify.

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