O Projeto de Lei que estabelece um salário mínimo para enfermeiros – aprovado ontem pela Câmara dos Deputados –  deve impactar significativamente as empresas de saúde, tanto do setor privado quanto público.

O PL já havia sido aprovado no Senado, e agora só precisa da canetada presidencial.

O projeto estipula uma remuneração mínima mensal de R$ 4,7 mil para os enfermeiros, de R$ 3,3 mil para os técnicos de enfermagem e de R$ 2,3 mil para os assistentes de enfermagem.

Esses valores são, em média, 30% acima da remuneração que esses profissionais recebem hoje.

Como 70% dos leitos de hospitais estão no SUS, o impacto para os cofres públicos deve ser significativo.

Segundo o relator do projeto, o impacto econômico do PL pode chegar a R$ 16 bilhões por ano – com a maior parte recaindo sobre o setor público: R$ 5,7 bi. As empresas privadas devem sentir um impacto de outros R$ 5,4 bi, e os hospitais filantrópicos, de mais R$ 5 bi.

A Câmara ainda não apontou onde a União, os Estados e os municípios deverão cortar para fazer frente a esses gastos adicionais. Mas, é claro, as ideias sobre onde buscar mais receita abundam. Nas últimas semanas, o mercado tem especulado sobre algumas possibilidades, como a retirada das contribuições sociais dos salários, a taxação maior do setor de mineração e a regulação do setor de apostas.

Analistas do BTG Pactual tentaram estimar os impactos desse aumento de custo para empresas como Hapvida, Rede D’Or e Dasa – e os resultados foram dramáticos.

Para o BTG, o PL geraria um impacto de 6-7% no EBITDA anualizado da Hapvida. Já para as empresas que apenas operam hospitais (Rede D’Or, Dasa e MaterDei) o impacto seria de 2% a 3% do EBITDA.

O Itaú BBA notou que o impacto sobre a Hapvida é maior do que na concorrência porque a empresa tem uma exposição maior ao Norte e Nordeste, onde o gap entre os salários atuais e os estabelecidos pelo PL é maior.

“Obviamente, uma boa parcela desse impacto seria repassado para os preços, mas o impacto final líquido ainda assim deve ser negativo, já que a demanda nesse setor é altamente sensível a preços,” escreveu o BTG.

Tanto BTG quanto Itaú dizem que boa parte dessa mudança já está no preço das ações. Nos últimos 30 dias, as empresas do setor de saúde têm performado muito abaixo do mercado: a Hapvida, por exemplo, cai mais de 27%.

Além disso, as grandes empresas do setor – listadas em Bolsa – têm condições de lidar melhor com essa situação do que as pequenas, o que deve acelerar os movimentos de consolidação no setor.

O sellside notou que as empresas do setor não estão fornecendo informações necessárias para projetar o impacto (como número de enfermeiros e salários), tornando as estimativas potencialmente precárias.