Depois de trabalhar anos cobrindo empresas de saúde no fundo soberano Temasek e na Actis, Manoela Mitchell deu um zoom num dos inúmeros problemas que afligem o setor: a dificuldade das empresas de contratar o plano de saúde ‘certo’ para os funcionários.

11044 0a9e3e40 f1a0 f8af 1738 968fe13c1b9dCom dois amigos, Manoela fundou a Pipo, uma corretora digital que usa inteligência artificial e big data para tornar o processo de escolha dos planos mais assertivo e barato. 

A startup acaba de levantar US$ 4,6 milhões em sua primeira rodada de seed capital com a Monashees, Kaszek e a ONEVC, a gestora brasileira baseada em São Francisco que foi uma das primeiras investidoras da Rappi.

Também participaram da rodada o fundador do Nubank, David Vélez, e Alex Bleyleben, o ex-VP da Collective Health — uma health tech da Califórnia e um dos principais benchmarks da Pipo.

“Os planos de saúde movimentam muito dinheiro mas ainda são um grande BPO… com planilhas, telefone, mas nada de tecnologia,” Manoela disse ao Brazil Journal. “Os corretores hoje trazem pouco valor agregado e não ajudam as empresas a comprar o melhor plano.”

Os outros fundadores da Pipo são Thiago Torres, um ex-analista da Gávea Investimentos e atual COO da empresa, e Vinicius Corrêa, um dos primeiros desenvolvedores do Nubank e hoje o CTO da startup. 

Para melhorar o processo, a Pipo cruza atributos — como a rede de cobertura,  preço e nível de reembolso — dos mais de mil planos de saúde disponíveis no mercado com as necessidades dos funcionários da empresa.

Aplicando seu algoritmo, ela consegue fazer o match perfeito e gerar economias relevantes. Para um de seus clientes (com mais de mil vidas), por exemplo, a tecnologia chegou a economizar 50% ao mês (ou R$ 12 milhões/ano) apenas com a troca do plano — e sem mudar uma vírgula na rede de cobertura. 

A Pipo é mais uma de diversas startups tentando arbitrar as ineficiências do setor de saúde suplementar, um dos mais disfuncionais da economia. As complexidades que existem na regulação, na relação entre operadoras, pacientes e prestadores médicos, e nas fórmulas de pricing impõem dificuldades até a grandes corretoras tradicionais, como a Aon e a Qualicorp, e startups como a Vitta, que acaba de ser vendida para a Stone.

Um número simples evidencia os desafios do setor:  há cerca de dez anos, o número de brasileiros com plano de saúde está estagnado em torno de 47 milhões.

“Quase todo mundo no setor diz ter algoritmos preditivos, mas eles só definem o grid de largada,” diz um banqueiro especializado no setor. “Depois da bandeirada, tem 70 voltas, e o que define a corrida é a sinistralidade. Quando a sinistralidade estoura, a coisa acaba em aumento de preço ou o corretor propõe a troca do plano.” 

Para conter a sinistralidade, a Pipo faz a chamada gestão da carteira: seus ‘concierges de saúde’ (um time composto por médicos e enfermeiras) tentam guiar os usuários do plano ao melhor atendimento de saúde para cada situação — evitando que a pessoa vá sem necessidade para o hospital (o elo mais caro da cadeia).

A Pipo já tem 25 clientes, entre eles startups como a Buser e a Oyo, e gestoras como a Monashees. A Pipo é remunerada pelas operadoras: ela ganha uma comissão de 5%, descontada do pagamento feito pelas empresas. Este modelo de remuneração é igual ao das corretoras tradicionais, mas a Pipo diz que seu diferencial é oferecer também o pós-venda e a gestão da carteira pelo mesmo preço, algo que, segundo Manoela, os outros players não fazem hoje.

Além da Collective Health — que no ano passado levantou US$ 210 milhões com o Softbank — a Pipo se inspirou na Zenefits, outra startup do Vale que atua na gestão dos benefícios de empresas, principalmente planos de saúde. Em sua última captação privada, a Zenefits foi avaliada em US$ 4,5 bilhões.