Pelo visto, o pêndulo das polêmicas superficiais continua a oscilar. Pena que preferimos a balbúrdia ao batente.
 
Quando o Muro de Berlim caiu, decretamos que os mercados deveriam reinar. Com a crise de 2008, deu-se o inverso. Era óbvio que mercado não funciona. Então veio o desastre Dilma, que desmoralizou a intervenção pública.
 
Com a pandemia, decreta-se novamente a falência dos liberais e a volta do intervencionismo. Antes disso, no entanto, iniciamos um novo contraponto. O que seria mais prejudicial: distanciamento social ou voltar com a economia?
 
A polarização exacerbada é filha da incompetência com a política mesquinha.
 
O governo federal demorou a enfrentar o vírus, apesar de sermos um dos últimos da fila. Já há dois meses, sabíamos que poderíamos ter problema e o primeiro caso constatado ocorreu no fim do mês passado.
 
Até agora, porém, nada de protocolos claros sobre como enfrentar a doença. Algumas autoridades em Brasília minimizaram a gravidade da pandemia e continuam a bater cabeça sobre as políticas de saúde pública nacionais que devem ser adotadas. O crescimento dos casos confirmados parece ter surpreendido aos especialistas, mas as dúvidas sobre os números é mais uma evidência do nosso amadorismo pra tratar de temas relevantes.
 
A reação dos governadores foi inevitável frente ao despreparo do governo federal para coordenar as ações, informar à sociedade e cuidar das decisões difíceis, como os aglomerados de pessoas que devem ser evitados. Além disso, ele falha em orientar sobre a imensamente complexa cadeia da produção e distribuição da economia.
 
Era o trabalho a ser feito, mas que requer inteligência e gestão muito além da polarização de botequim.
 
Os médicos devem definir os critérios e cuidados a serem tomados. Muitas atividades podem ser feitas remotamente. Outras são interrompidas. Existem aquelas, porém, que não podem parar para garantir os cuidados de saúde e o bem-estar da população.
 
Tem que se preservar a manutenção da infraestrutura. A produção de muitos bens e serviços não pode parar, assim como a logística. Especialistas em saúde e de outras áreas deveriam definir como proceder nos diversos casos críticos do setor produtivo.
 
A medicina é urgente. A energia e a comida, também.
 
O comitê gestor da crise deveria equilibrar o difícil dilema entre os cuidados com a saúde e as partes da economia que deveriam continuar a funcionar para garantir a sobrevivência dos demais.
 
Esses temas, porém, deviam ter sido discutidos lá atrás, e não em plena pandemia. Perdemos tempo demais por falta de liderança. Quem sonhava com John Wayne acordou com o Pato Donald.
 
Além disso, o Executivo deveria proteger os vulneráveis, sem cair no conto dos governadores que, sem ter feito seu dever de casa, pedem auxílio para pagar a folha de pagamento de servidores públicos, ou das velhas federações da indústria que foram mal acostumadas pela desastrosa política econômica do governo Dilma.
 
Na falta de uma gestão tempestiva e técnica, resta um governo federal pego de calças curtas e que tenta arrumar culpados para o seu fracasso em administrar esta grave crise.
 
Marcos Lisboa é economista.
 
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