O Bradesco BBI vinha mantendo uma visão otimista da indústria de papel e celulose por um bom tempo – com recomendação de compra para as principais empresas do setor.
Mas tudo tem limite.
O banco acaba de rebaixar todas as companhias de papel e celulose – com um downgrade duplo para a Suzano e a chilena CMPC (de compra para venda), e um downgrade de Klabin para neutro.
“Enquanto temos estado geralmente certos em relação à direção do preço da celulose, as ações do setor sofreram e performaram pior que a commodity,” escreveu o analista Thiago Lofiego. “Daqui em diante, vemos os fundamentos deteriorando e nenhum catalisador para um re-rating.”
Para o Bradesco BBI, os preços do papel e da celulose bateram no pico e “provavelmente” vão começar a cair no curto prazo.
O banco está reduzindo em US$ 250/tonelada sua estimativa para o preço da celulose de fibra curta (para US$ 610/tonelada em 2023) e em US$ 200-230/tonelada para o papel kraft nos próximos 12 a 18 meses.
O principal fator por trás desse corte nas estimativas é a demanda, na visão do analista.
“Esperamos que a demanda europeia diminua materialmente dado a deterioração da atividade econômica, enquanto o crescimento da demanda chinesa será leve e suportado principalmente pelo reabastecimento, o que não será suficiente para prevenir as correções de preços.”
Na outra ponta, a oferta também deve aumentar: os problemas na cadeia de suprimento estão começando a se resolver, o que vai liberar gradualmente pelo menos 1 milhão de toneladas de estoques de celulose ao longo de 2023.
No médio e longo prazo, o Bradesco BBI continua vendo as companhias latinoamericanas de papel e celulose como geradoras de valor, dado que elas “estão bem posicionadas para se beneficiar não apenas de uma competitividade de custos sem paralelos, mas também de tendências seculares como a substituição do plástico, declínio na disponibilidade de madeira e potencial monetização de créditos de carbono.”
“No entanto, em meio à deterioração das condições macro e da queda no preço do papel e celulose, não vemos grandes triggers para as ações do setor e achamos que os investidores vão continuar longe pelo menos nos próximos seis a 12 meses.”
O banco cortou sua estimativa para o EBITDA das empresas do setor em cerca de 5% para 2023 e em 10% a 15% para 2024 — incorporando os preços menores, que seriam parcialmente compensados por reduções de custos.
O banco também reduziu seu target de EV/EBITDA — 5,5x para a Suzano, 5x para a CMPC, 7x para a Klabin e 5,5x para a COPEC.