O modelo de plugins da OpenAI — que permite que o ChatGPT execute funções como reservar um restaurante ou hotel ou resumir uma call de resultados — deve ser a próxima grande disrupção da internet.
Essa é a visão do Itaú BBA, que divulgou um relatório destrinchando esse modelo e elencando algumas empresas que podem se beneficiar (ou sofrer) com essa transformação.
“Num mundo onde um clique a menos faz a diferença — basta perguntar a alguém da geração Z porque eles preferem o TikTok em relação ao Google para algumas pesquisas — estamos estupefatos com o poder dos plugins do ChatGPT para criar disrupção,” escreveu o analista Thiago Kapulskis.
“Estamos começando a achar que a internet pode ser reescrita por meio de uma profunda mudança de hábitos.”
Para o analista, os plugins podem ser vistos como os “olhos e ouvidos” dos modelos de linguagem, já que eles dão acesso a informações “recentes demais, pessoais demais, ou específicas demais para estarem incluídas nos dados de treinamento.”
“Em resposta aos pedidos dos usuários, os plugins podem permitir que os modelos de linguagem performem ações seguras e limitadas, aumentando a usabilidade do sistema.”
Empresas como a Expedia, OpenTable, Shopify, Slack e KAYAK já criaram os primeiros plugins em parceria com o ChatGPT — mas já existem mais de 70 plugins em desenvolvimento que devem chegar ao mercado em breve.
Como toda disrupção cria vencedores e perdedores, o Itaú elencou duas empresas que serão beneficiadas pela mudança e duas que podem sofrer.
Os vencedores: a Microsoft e a Nvidia.
Os perdedores: Google e Apple.
O analista disse que adoraria recomendar as ações da própria OpenAI. Mas como ela não é listada, só resta ao investidor comprar a Microsoft, que tem uma participação societária na dona do ChatGPT.
“Se a OpenAI se tornar a próxima Apple App Store — o lugar para se buscar fontes para buscas específicas — ela pode se tornar a próxima Big Tech do mercado, pelo menos em termos de utilidade,” disse Thiago.
Não bastasse isso, segundo ele, a Microsoft está reformulando seu pacote de produtividade (incluindo um copiloto de IA em seu pacote office), o que sozinho pode gerar um upside de 20% para as estimativas de lucro por ação do Itaú em 10 anos.
“Mesmo a 23x o lucro do ano que vem, teríamos pelo menos uma posição de tamanho médio na Microsoft,” disse o analista.
Já a Nvidia tem os ventos favoráveis mais fortes do setor, já que são necessários muitos GPUs (chips desenhados por ela) para treinar os modelos. Ao mesmo tempo, a companhia tem o risco tecnológico mais baixo.
O grande risco tecnológico para a Nvidia seria a Microsoft e o Google começarem a desenvolver seus próprios chips para treinar seus modelos, e torná-los públicos.
“Vemos upside mesmo com a ação negociando a 52x lucro, dependendo da necessidade computacional do mercado.”
Já o Google é a empresa que tem o maior risco com as potenciais mudanças do mercado, segundo o Itaú. O analista cita o exemplo dos plugins que o ChatGPT fez com a Expedia e com a OpenTable, que permitem dar sugestões de reservas de hotéis e de restaurantes, com base nas avaliações de clientes e necessidades do usuário.
“Olhe a experiência com a Expedia e OpenTable e depois se pergunte ‘por que precisamos do mecanismo de busca do Google como ele é hoje?’”
A Apple também poderia perder com a disrupção do ChatGPT, segundo o Itaú, porque parte do economics de seu negócio poderia ser atacado.
“Por que você usaria o app da OpenTable se o ChatGPT oferece a mesma funcionalidade com um contexto muito mais rico? E se o Google Search for ‘disruptado’, quem pagaria US$ 15-20 bi por ano (segundo nossas estimativas) para ter o direito de ser o mecanismo de busca padrão no iOS?”
O Itaú reconhece que a maior parte do ‘earnings power’ da Apple continua a salvo — a parte de hardware e gaming — “mas esses pontos não podem ser negligenciados para uma companhia que não está crescendo e que negocia a 23x o lucro.”