As operadoras de saúde continuaram aumentando preços agressivamente entre dezembro e fevereiro, segundo dados da ANS que acabam de ser divulgados — reacendendo o debate sobre a sustentabilidade desses aumentos e o tamanho do mercado de saúde suplementar. 

Os números vêm depois de um terceiro e quarto trimestres de reajustes já elevados — com as operadoras tentando controlar o aumento da sinistralidade por meio de preços maiores.

A indústria como um todo teve um reajuste médio de 11,4% no período, com os maiores reajustes vindo do Bradesco (que aumentou os preços em 22,3%) e da SulAmérica (16,6%).

A Hapvida teve um reajuste de 13,3% nos três meses, enquanto a Unimed reajustou seus preços em 12,6% e a Amil em 13,5%, segundo os cálculos do BTG Pactual.

Os números são apenas para os planos corporativos e para os planos coletivos por adesão, já que o reajuste dos planos individuais é definido pela ANS. 

“Como a sinistralidade está em níveis historicamente altos e as frequências permanecem bem acima das tendências pré-pandemia, os aumentos de preços são o principal gatilho para colocar as operadoras de volta nos trilhos da lucratividade,” escreveu em relatório o analista Samuel Alves, do BTG. “Esperamos que os aumentos de preço de dois dígitos ajudem nessa frente ao longo do ano.”

Os reajustes vem num momento em que o mercado de saúde suplementar está no pico histórico de usuários, com cerca de 52 milhões de beneficiários. “Ao mesmo tempo, as empresas nunca perderam tanto dinheiro,” disse outro analista que cobre o setor.

A sinistralidade média do setor fechou o ano passado em 88,5%, o maior patamar dos últimos treze anos. 

Segundo o analista, os reajustes constantes devem levar a uma redução no número de beneficiários, já que muita gente não vai conseguir pagar mais os planos.

“Mas não tem muita saída, é o caminho que elas têm que seguir,” disse ele. “As empresas vão ter que continuar reajustando preço e provavelmente vamos ter um mercado menor, com 47, 48 milhões de usuários.”

A Hapvida, por exemplo, vinha guiando o mercado para um crescimento orgânico de cerca de 1% por trimestre ao longo deste ano, o que dava um crescimento no ano de 4% a 5%. 

Agora, boa parte dos analistas do sellside e do buyside já acham que a companhia terá um crescimento orgânico bem menor ou até negativo. 

“Se antes eles iam crescer 15% no ano, com 10% vindo de reajuste de preço e 5% de crescimento orgânico, agora eles esse crescimento deve vir basicamente dos reajustes. No final é os mesmos 15%, mas no longo prazo isso não é sustentável,” disse o analista.