A propaganda eleitoral do PT na televisão nos convenceu: a coisa é tão bem feita que decidimos votar em Dilma Rousseff.

10218 dae06a49 2d8a 0003 0000 6a53bcbd60e4É naquele Brasil rico, colorido e bem nutrido que a gente quer morar.  Tudo bem que ele ainda não existe, mas pelo menos o PT sabe vender o peixe de forma que qualquer analfabeto entenda — coisa que a oposição não tem a menor ideia de como fazer.

Agora que escolhemos o lado certo, mãos à obra, companheiros!

Para ajudar no grande trabalho de “dessacralização” de Marina Silva, não basta apenas compreender que os banqueiros — com sua volúpia em cobrar tarifas e influenciar eleições — são a verdadeira ameaça a esta Nação.  Não basta só mostrar o prato de comida sumindo da mesa dos brasileiros quando se fala em autonomia do Banco Central. É preciso fomentar aquele caldo de cultura de rico contra pobre, insistir que lucro é pecado, e mostrar os banqueiros como sanguessugas do povo. O precedente histórico nos favorece.

É preciso também fazer as perguntas duras e incômodas a estes banqueiros que ainda não entenderam que a política tem que ser deixada para os sindicalistas, estes sim, gente que só pensa no povo.

Foi com essa agenda em mente que demos uma dura em Maria Alice Setúbal. Cuidado. Esta mulher tenta camuflar a grave ameaça que representa para o nosso projeto de poder valendo-se de um singelo e aparentemente inofensivo apelido: “Neca”.

Segue nossa entrevista (imaginária mas plausível) com a famigerada herdeira do Itaú Unibanco.

 

A senhora é filha de Satanás?

Não. Sou filha de Olavo Setúbal. Meu pai presidiu o Banco Itaú por muitos anos, e teve também um engajamento na política. Ele fundou, ao lado de Tancredo Neves, o Partido Popular, reunindo o pessoal moderado da Arena e do MDB. Meu pai sempre foi conservador na política, mas nunca foi do mal. No Governo Sarney, foi ministro por cerca de um ano. Havia sido indicado por Tancredo. Minha mãe, Tide Setúbal, criou o Corpo Municipal de Voluntários (CMV) e se envolveu tanto no trabalho social que, em seu enterro, foi homenageada pelo cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, um homem adorado pela esquerda e respeitado pela direita.

Deixa eu reformular: a senhora tem parte com o demo, não é verdade?

Tenho parte com a sociedade brasileira. Nos últimos anos, me dediquei integralmente à causa da educação básica. Colaborei no programa de governo do candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, e não costumo ter preconceito com políticos, apesar de eles merecerem mais do que os banqueiros.

Confesse, Neca! Tudo isso é parte de um plano para botar o Itaú no comando do País. Fale, e te pouparemos!

O Banco Itaú vai muito bem, obrigado. Não precisa “mandar” no País nem considero que isso seria legítimo. A política é uma construção coletiva. Há vários atores na sociedade, e todos devem ser representados. O Itaú, apesar da economia fraca, está perto do seu maior valor de mercado da História. A Petrobrás, que o PT administra há 12 anos, vale menos da metade do que já valeu.

A senhora não entende ou se faz de santa? Não fosse a grave crise internacional, a economia estaria bombando!

Vou fazer como a tua candidata: vou dar uma resposta ignorando a pergunta e falando o que eu quero. Presido uma ONG, o Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (CENPEC). Também presido a Fundação Tide Setúbal, que dá cursos e promove projetos culturais na zona leste de SP. Estive com Marina na eleição de 2010, quando ela estava no PV e teve 19 milhões de votos. Depois ajudei na criação da Rede.

Foi a senhora que mandou a Marina chorar? Bom golpe aquele… ainda bem que o Lula entrou e desarmou aquele circo.

Marina chora porque tem sentimentos. Você não chora porque 12 anos de PT no poder deixam qualquer um cínico, amargo, sem sonhos.

Neca, vamos concordar em divergir.  

Caros leitores, a luta continua! Na semana que vem a coluna confronta Luiz Carlos Trabuco, do Bradesco (“Como é que o Bradesco ainda não bateu de frente com o governo nesta eleição? É alguma pegadinha pro segundo turno?”) e André Esteves, do BTG (“André, você já foi mais nosso amigo…”)  O Santander foi dispensado das perguntas duras porque já está assustado o suficiente.

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PS: Este é um post sarcástico-ficcional. Nenhum animal político foi ferido nem maltratado nesta redação (a menos que tenha merecido).