Estamos enfrentando uma das maiores tragédias naturais da história do Rio Grande do Sul, decorrente de tempestades dantescas e do rompimento de barragens, deixando milhares de casas, famílias e empresas destruídas.

Uns dizem que o otimista é um pessimista mal informado, mas um estudo recente da Escola de Saúde Pública de Harvard indica que as pessoas otimistas possuem expectativa de vida 5,4% maior que a do grupo pessimista. 

Assim como a maioria dos brasileiros, considero-me um otimista – mas confesso que estou tomado por um desânimo, não somente pela calamidade que atingiu o estado em que escolhi viver, mas também com o próprio Brasil.  Chama atenção nossa incapacidade de investimento e a ausência de recursos para atender este mundo de necessidades.

Vivemos tempos difíceis, sem estabilidade nenhuma. O mundo tem mudado não somente no clima e no meio ambiente: os países e a maneira como as sociedades têm se relacionado também têm se modificado de forma acelerada. 

Um novo mundo está surgindo, gerando mais dúvidas e temores. Existe o risco de novas guerras, a IA generativa, a disrupção de modelos vigentes, a desglobalização, os novos oligopólios, as novas dinâmicas do trabalho – estes são só alguns desafios deste novo futuro.

O mundo tem mudado. O Brasil, não. 

Não nos cansamos de continuar no mesmo lugar – talvez por não entendermos o risco de não fazer nada. 

O sociólogo Bolívar Lamounier diz que um país consegue consolidar avanços reais ao longo do tempo quando suas elites se organizam em prol desta visão.

Aliás, não convém confundir o conceito de elite com o de pessoas ricas. Em cada camada da sociedade há uma elite composta por seus melhores pares, representantes de diversas áreas de atuação que, mesmo que indiretamente, estão conectados num objetivo de longo prazo com seu país.

Ocorre que vivemos um momento de polarização barata e contraproducente. A qualidade de nossas lideranças não se mostra à altura dos desafios que temos para o nosso desenvolvimento humano e econômico. 

Vivemos a armadilha do baixo crescimento; no quadro atual, teremos mais duas décadas de desenvolvimento medíocre, e continuaremos incapazes de financiar a construção de uma infraestrutura física e social mínima.

Apesar de termos um dos maiores PIBs do mundo, quando utilizamos o PIB per capita concluímos que estamos piores que países como Argentina, México ou Turquia – e atrás de mais de 70 países. 

Até aí tudo bem, pois somos um país relativamente novo, continental e populoso. O que preocupa é o que estamos fazendo (e deixando de fazer) neste mundo em profundas transformações. 

Nossas melhores figuras abdicam da política, o que na prática significa delegar nosso futuro aos menos qualificados, incapazes de nos tirar da armadilha do subdesenvolvimento.

E como sair dessa? Também não tenho certeza, mas observando a história dos vencedores contemporâneos, vemos que o caminho está atrelado ao empreendedorismo e à propriedade privada, à ciência e tecnologia, à poupança interna, à liberdade e ao apoio às empresas, à educação e proteção à criança e ao adolescente, a um setor público eficaz e meritocrático, e a um sistema tributário justo.

No Brasil temos um capitalismo acanhado. Carecemos de um consenso sobre a importância do desenvolvimento econômico a partir da indústria, da tecnologia, do mercado de capitais e do comércio internacional. 

Países como a Inglaterra e Holanda tornaram-se gigantes a partir da criação das Companhias das Índias Orientais, as primeiras multinacionais e as primeiras a emitir ações negociadas em Bolsa para financiar a expansão de seus respectivos países, estabelecendo uma vasta rede comercial desde a Ásia até as Américas. 

As inovações introduzidas por estas companhias, juntamente com o estímulo à ciência e suas aplicações comerciais no sistema econômico global, deveriam servir de guia para a reconstrução do Brasil.

A história dos Estados Unidos, por exemplo, nos mostra o quão inseparável ela é da história de suas empresas e empresários, colocando o comércio, o empreendedorismo e a inovação como motores do progresso econômico e social.

Governos não criam riqueza. As empresas e as famílias, sim. Enquanto não entendermos que as escolhas de alocação de recursos públicos são a chave de nossa transformação – incluindo sacrifícios de algumas necessidades justas – não sairemos da armadilha. 

Para reconstruir o Rio Grande do Sul – e o Brasil – não falta só dinheiro. Falta visão, coerência e sinceridade. 

Mohamed Parrini é CEO do Hospital Moinhos de Vento.