Na próxima semana se inicia a 111ª edição do Tour de France. Neste ano serão 21 etapas, com trechos de montanha, sprints, trechos planos e mistos. Cada etapa do Tour, como cada ciclo de mercado, tem um vencedor – sendo que o vencedor geral não vence todas etapas, mas é o que tem a maior soma de pontos. 

Como nos mercados, é uma corrida de longa duração, com etapas de resistência – value investing – e velocidade – growth investing

A definição mais comum de growth investing é buscar empresas com crescimento de lucros acima da média, cujas ações vão geralmente melhor em bull markets. 

Value investing é buscar empresas que negociam abaixo do valor intrínseco a múltiplos baixos e vão bem em mercados de baixa ou “de lado”, pois são defensivas. Simplificando, growth investors investem em Nubank, value investors, em Banco do Brasil. Ambos excelentes bancos, mas com valuations em extremos opostos. 

Geralmente investidores de growth tendem a ser mais otimistas. Os value investors, mais desconfiados. 

No Tour, nas etapas de montanha, os vencedores são os mais pacientes e com maior resistência, como os gestores mais defensivos. Nas etapas de sprints, os ciclistas com maior explosão e velocidade vencem e  seriam os gestores mais agressivos em um bull market. 

Interessante também é o pelotão, onde ficam a maioria dos competidores dada a proteção do vento de frente; como a proteção de um portfólio parecido com o índice ou outros fundos. De tempos em tempos um ciclista arrisca e “foge” do pelotão e ganha a etapa ou se cansa rápido ficando para trás. O bom gestor é aquele que sabe a hora certa de “fugir” do pelotão.  

Nos últimos anos tivemos 2 ciclos de mercado no Brasil. O bull market de 2016 a 2021, quando empresas de maior crescimento se beneficiaram e expandiram múltiplos. Era comum ver empresas negociando a 40x lucro e vários IPOs e gestores orientados para growth indo muito bem. 

Claramente havia um exagero de otimismo. O aumento de juros a partir de 2021 iniciou uma correção nas bolsas globais e algumas ações brasileiras caíram de 80% a 90%. Algumas empresas que negociavam a 40x lucros hoje negociam a 10x e, nesse 2º período, gestores mais defensivos foram melhor. Como serão os próximos anos? Melhor ser growth ou value investor?

É impossível prever os mercados, mas é certo que no médio prazo os preços das ações seguem os resultados das empresas. Mesmo na desafiadora conjuntura recente, Nubank e MercadoLivre cresceram lucros de forma consistente e as ações performaram muito bem. 

Difícil saber o catalista de uma recuperação na bolsa, mas é possível encontrar as empresas líderes, com balanços sólidos e crescendo lucros. Por consequência, tendem a ser ações de boa performance.

O ponto de partida atual de valuation é bem mais seguro do que há alguns anos. A relação risco-retorno de uma ação a 10x lucro tem uma bela margem de segurança que value ou growth investors deveriam concordar. “Se você gosta de IPCA + 6%, muitas boas empresas hoje negociam a IPCA +20%.” 

No final, investidores devem comprar empresas que negociam abaixo de seu valor intrínseco, importando-se menos com value ou growth. O momento é bom para ambos. 

Muitos value investors ficaram chateados quando Buffett comprou ações da Apple, afinal empresas de tecnologia não deveriam ser empresas de valor. Na época, a Apple estava abaixo de seu valor intrínseco, e se tornou o maior ganho financeiro da história da Berkshire. 

Voltando ao Tour de France: assim como nos mercados, se trata de um teste de endurance, onde o competidor de sucesso deve achar uma estratégia vencedora e ter disciplina ao executá-la. No caso do investidor, essa estratégia deve casar com seu temperamento, focar nos resultados das companhias, evitar grandes erros com um time de excelência com skills diversos. 

No Brasil este é um momento desafiador para os gestores de fundos, uma etapa de montanha do Tour. De vez em quando subimos montanhas em nossas carreiras. O importante é não desistir, pois em algum momento o terreno muda. 

“A simple rule dictates my buying: Be fearful when others are greedy, and be greedy when others are fearful,” ensinou Warren Buffett.

Estes momentos também são de ter a coragem de investir no principal ativo de qualquer empresa, as pessoas. Em investimentos a diferença de “retorno” entre um profissional excepcional e um “apenas bom” pode ser de 10x, algo raro em outras carreiras. 

Os maiores acertos ou erros geralmente são relacionados à escolha de pessoas, e não de ações.

Florian Bartunek é fundador da Constellation Asset Management.