Enfrentando resistência do mercado em relação ao valuation, a Oncoclínicas teve que precificar sua oferta abaixo da faixa original, mas chega à Bolsa amanhã valendo R$ 10 bilhões. 

O papel saiu a R$ 19,75, um desconto de 11% em relação ao piso da faixa que ia de R$ 22,21 a R$ 30,29, com os investidores adotando uma postura de ‘wait and see’ para uma tese altamente dependente de M&As.

A companhia levantou R$ 1,8 bilhão, e a oferta secundária de R$ 1,3 bilhão deu saída parcial à Goldman Sachs, que por meio de dois FIPs possuía 93,5% da empresa. Agora, a Goldman ainda tem 58%. 

Nas primeiras conversas, os bancos sinalizavam um valuation de R$ 15 bilhões. 

A Oncoclínicas é uma novidade no setor de saúde, que vem ganhando representatividade na bolsa com os segmentos de hospitais, planos de saúde e redes de diagnóstico.  

“O mercado reconheceu que o negócio da Oncoclínicas é bom, mas considerou o valor pretendido ‘esticado’. O setor vai crescer bastante, e a empresa está operando bem. Mas a dúvida é sobre o aumento da concorrência, uma vez que outros players podem facilmente entrar no segmento”, diz um gestor que olhou a oferta.

Por exemplo, a Rede D’ Or tem uma parte do seu negócio focada em oncologia — aliás, uma das áreas da empresa que mais cresce, diz um analista. 

A tese é a do rápido envelhecimento da população brasileira e da evolução de diagnósticos e tratamentos que aumentam a sobrevida dos pacientes. “Oncologia é um dos segmentos que mais cresce em saúde, e não existia na bolsa um veículo para investir diretamente nisso”, diz um gestor. 

A Oncoclínicas nasceu em 2010, em Belo Horizonte, criada pelo médico Bruno Ferrari, hoje o chairman da empresa. Cinco anos depois, atraiu o private equity da Goldman, que investiu estimados R$ 500 milhões em 2015 e mais R$ 200 milhões em 2018. 

Nos últimos 3 anos, a empresa dobrou sua receita líquida para R$ 2 bilhões em 2020. O EBITDA foi de R$ 312 milhões ano passado.

A empresa possui 69 unidades, incluindo clínicas, laboratórios de genômica, anatomia patológica e centros integrados de tratamento de câncer, em 20 cidades que cobrem aproximadamente 18% da população brasileira.

No prospecto, a companhia estima o tamanho do mercado privado de oncologia no Brasil entre R$ 43 bilhões e R$ 48,5 bilhões.

Apesar de líder, seu share em serviços de oncologia é de apenas 4,8%. 

Entre 2016 e 2020, a Oncoclínicas fechou 17 aquisições. Em 2021, já comprou mais 9 empresas em 5 estados; e tem outras quatro operações em andamento. Os recursos do IPO vão acelerar os M&As e o crescimento orgânico. 

Outro analista diz que o case não depende somente de M&As.

“A empresa vai crescer organicamente durante um bom tempo, assim como o ticket médio dos tratamentos, pois os medicamentos novos são mais eficientes e mais caros”. 

Segundo ele, um argumento central no pitch da companhia foi a expansão de margem, o que ainda é discutível. “O ganho de margem deveria vir de ganhos de desconto no contrato com os fornecedores de medicamentos, mas acho questionável o quanto eles ainda conseguem expandir”, diz. 

A empresa está chegando ao mercado com um múltiplo EV/EBITDA estimado em 18x para 2022, comparado a 22,2x para a Rede D’Or; 19,7x para a Intermédica e 18,9x para a Hapvida.  

A demanda — de pouco mais de duas vezes o book — ficou dividida meio a meio entre investidores domésticos e internacionais. 

Os coordenadores foram Goldman Sachs (líder), Itaú BBA, Citi, UBS BB, Santander, JP Morgan e XP.