A Oncoclínicas reportou uma geração de caixa operacional de R$ 309 milhões no segundo trimestre, refletindo uma melhora relevante na dinâmica de capital de giro da companhia.
Dado a sazonalidade do setor, o sellside já esperava que a companhia geraria caixa, mas numa magnitude menor. A média das projeções dos cinco analistas que cobrem a empresa era de uma geração operacional de R$ 220 milhões.
O resultado vem depois da Oncoclínicas ter queimado R$ 342 milhões de caixa no primeiro tri.
O CFO Cristiano Camargo disse ao Brazil Journal que a geração de caixa foi ajudada por uma melhora na dinâmica de capital de giro da empresa. A Oncoclínicas reduziu seus dias líquidos de capital de giro em 21 dias, de 64 para 43.
Essa redução teve a ver com dois fatores. A empresa conseguiu reduzir seu prazo de recebíveis, que caiu de 105 dias no primeiro tri para 103 dias no segundo, e ampliou o prazo de pagamento dos fornecedores, que saiu de 58 dias para 73 dias.
A redução no prazo de recebíveis foi ajudada por uma melhora na sinistralidade dos planos de saúde – o que liberou caixa para eles pagarem valores em aberto – bem como um trabalho da companhia de “ficar mais próxima das fontes pagadoras,” disse o CFO. “Saímos de uma postura passiva, para uma mais reativa.”
O prazo de recebíveis estava piorando há alguns trimestres, basicamente pelo cenário mais complicado das operadoras de saúde. O prazo de recebíveis partiu de 85 dias no terceiro tri do ano passado para 93 dias no quarto tri e atingiu 105 no primeiro tri deste ano.
Já o aumento no prazo dos fornecedores foi resultado de uma negociação que já vinha acontecendo há algum tempo. “Conforme os nossos prazos de recebimentos foram aumentando, começamos a negociar com a indústria farmacêutica para aumentar o prazo de pagamento também. Não podíamos ser os únicos a sofrer. Tínhamos que passar um pouco dessa pressão para frente,” disse o CEO Bruno Ferrari.
A geração de caixa livre da Oncoclínicas (que subtrai o capex e despesas financeiras) foi de cerca de R$ 100 milhões no trimestre.
Com esse resultado, a companhia conseguiu reduzir marginalmente sua alavancagem, de 3x EBITDA para 2,9x, e a expectativa é que ela continue caindo, já que no terceiro e quarto tri a empresa historicamente gera mais caixa, disse o CFO.
A receita da Oncoclínicas subiu 51% na comparação anual, para R$ 1,4 bilhão. Cerca de 31% desse crescimento foi orgânico, com o aumento no volume de atendimentos e um crescimento de 7% no tíquete médio. O restante veio dos M&As.
O ritmo do crescimento orgânico veio parecido com o do trimestre anterior, quando a empresa havia entregado um crescimento de 33%, depois de crescer 26% no quarto tri e 29% no terceiro.
O crescimento no volume teve a ver com o ramp up dos cancer centers da empresa e também com a adição de 500 novos médicos à base nos últimos doze meses, o que permitiu aumentar os atendimentos nas clínicas.
A margem bruta veio em 35%, uma queda de 70 basis points em relação ao mesmo tri do ano passado e de 140 bps em relação ao tri anterior. A queda no sequencial é explicada pela sazonalidade: todo ano, o reajuste dos medicamentos passa a valer em abril, aumentando os custos da Oncoclínicas, que só consegue repassar o aumento para as fontes pagadoras a partir de julho.
O EBITDA veio em R$ 268 milhões, um crescimento de 109% na comparação anual, mas praticamente em linha com o consenso (R$ 260 mi).
Já o lucro líquido ficou em R$ 35 milhões, em comparação aos R$ 28 milhões do consenso. No segundo tri do ano passado, a Oncoclínicas havia reportado um prejuízo de R$ 24 milhões.
O resultado é o quarto lucro trimestral consecutivo da Oncoclínicas e reflete, em grande parte, o esforço de otimização tributária que a companhia empreende há cerca de um ano para reduzir sua alíquota efetiva.
Para se ter uma ideia, no segundo tri do ano passado a alíquota efetiva da Oncoclínicas havia sido de mais de 500% (um imposto de R$ 35 mi para um lucro de R$ 5 mi). Neste tri, essa alíquota já foi de 50%, e a projeção é chegar aos 34% até o final deste ano.
O resultado de hoje é o primeiro publicado pela Oncoclínicas desde seu follow-on em junho. De lá para cá, a liquidez do papel subiu significativamente, saindo de um volume médio diário de R$ 19 milhões para R$ 34 milhões hoje.
A empresa vale R$ 6,3 bilhões na B3.