A Carpa Family Office investiu R$ 15 milhões no Azuriz, um clube de futebol do interior do Paraná criado há quatro anos com o foco na formação de atletas — e que acaba de se classificar para a Série D do Brasileirão.
A Carpa assessora a alocação de R$ 7 bilhões em recursos de 21 clientes, incluindo a família Colombo, do fundador da Piraquê, e o grupo DOZE, do jogador Marcelo Silva, do Real Madrid.
O Azuriz está usando a rodada para criar uma holding em Delaware — a Azuriz Jay — que pretende investir em diversos clubes de futebol, gerando sinergias operacionais e administrativas relevantes.
A primeira aquisição foi feita em junho: a holding comprou o Clube Desportivo de Mafra, um time da segunda liga do campeonato português.
O Mafra — o orgulho de uma cidade de 100 mil habitantes a 30 minutos de Lisboa — tem uma estrutura pequena, orçamento limitado e ainda pouca tradição nas divisões maiores do futebol, “mas o clube estava bem organizado financeiramente e tinha zero de dívida,” Pedro Weber Braga, o CEO e fundador do Azuriz, disse ao Brazil Journal.
“Nosso plano é implementar nossa estrutura lá dentro para ajudá-los a dar um salto.”
A ideia do fundador é que o Azuriz forme talentos no Brasil e depois os transfira para o Mafra, que vai funcionar como uma espécie de vitrine para esses jogadores. Ao jogar num time com visibilidade na Europa, os atletas poderão atrair a atenção de outros times da região, que podem ter interesse em comprá-los.
“É uma oportunidade interessante porque clubes de segunda linha da Europa têm dificuldade de acessar o mercado brasileiro,” disse Celso Colombo Neto, o fundador da Carpa. “Quando você leva esse jogador [brasileiro] para uma primeira ou segunda divisão de Portugal você aumenta as chances dele. É uma ponte importante.”
Com sede na pequena Pato Branco, o Azuriz tem uma estrutura boa: cinco campos de treino e um alojamento que pode abrigar até 64 jogadores (e será expandido para 80).
O clube já tem a formação sub-11 e sub-17 e está finalizando a estruturação do sub-19. O centro de formação do Azuriz começou a funcionar há apenas três anos, mas 30 atletas que foram formados lá já estão jogando em grandes clubes do Brasil — incluindo o Flamengo, Fluminense, Grêmio e Corinthians.
Um dos jogadores, o goleiro Renan Bragança, já foi transferido para o Mafra. A expectativa é que, no ano que vem, cinco atletas do Azuriz já estejam jogando pelo clube português.
Pedro fundou o Azuriz em 2017 depois de trabalhar no mercado financeiro e ter sido sócio de uma agência de representação de atletas. O empresário disse que sempre teve vontade de estruturar um clube-empresa.
“Nos últimos anos, a FIFA começou a regulamentar muito os clubes de formação. Enxerguei um nicho relevante nisso e parti pro ataque,” disse ele.
No Brasil, o Azuriz é um dos poucos clubes estruturados nesse modelo. Mas lá fora, já há alguns benchmarks: Pedro diz que o principal é o Independiente del Valle, um time equatoriano que está operando exatamente com a mesma estratégia. Ele forma jogadores para vender no mercado europeu e, recentemente, comprou o Numancia, um time da quarta divisão do campeonato espanhol.
O Azuriz fez sua primeira rodada de investimentos logo depois que nasceu, quando atraiu o jogador do Real Madrid, Marcelo Silva, além da família Gouvea, que vendeu as Lojas Leader ao BTG.
Por enquanto, tanto o Azuriz quanto o Mafra ainda operam no vermelho. O time brasileiro terá um orçamento de R$ 7,5 milhões no ano que vem, com uma receita esperada de R$ 4-5 milhões. Já o Mafra terá despesas de € 1,5 milhão para uma receita de € 900 mil.
A expectativa é que o Azuriz chegue ao breakeven já em 2023. Já o Mafra… “vai depender da subida dele para a primeira liga,” disse Pedro.
Outra opcionalidade que poderia acelerar o breakeven seria um bom resultado na Taça de Portugal. O Mafra se classificou há duas semanas para as oitavas de final, que serão disputadas no dia 22 de dezembro.
Caso consiga chegar às quartas ou semifinais — e pegar um time grande como o Benfica ou o Porto — o Mafra poderia atingir já este ano o breakeven, uma vez que a receita de bilheteria e direitos de televisão seria muito grande para a estrutura do time.
O Azuriz quer fortalecer os dois times que já tem, mas também tem planos de replicar o modelo de formação de jogadores em outros países da América do Sul, bem como comprar outro time na Europa (desta vez, um clube flagship, que já tenha uma torcida e tradição fortes).
A aquisição do clube flagship deve acontecer no segundo semestre de 2022, e vai demandar uma nova captação. A ideia é que esse time complemente a esteira da holding: depois que o jogador formado no Azuriz for transferido para o Mafra, esse clube flagship poderia comprar esse jogador do Mafra.
Na América do Sul, a ideia é começar a replicar o modelo de clube de formação pela Argentina, que é hoje o segundo maior exportador de jogadores de futebol do mundo, depois do Brasil. O Azuriz está estudando criar um clube de formação na cidade de Posadas, na província de Misiones, que fica a apenas 450 km de Pato Branco.
Outras opções são fazer o movimento na Colômbia, Equador e Uruguai.