O colapso repentino dos mercados foi particularmente doloroso para os novatos na Bolsa, que haviam trocado o conforto sonolento da renda fixa pelas promessas da renda variável — e viram suas economias evaporar quando o Ibovespa mergulhou de 120 mil para 70 mil pontos.  

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Agora, um rap que começou a viralizar no whatsapp está sendo visto como a melhor crônica do desastre.

Em ‘CoronaCrise’, inspirada em sua própria experiência como investidor, o MC Balela criou rimas que descrevem a angústia do prejuízo — um caso clássico de ‘rir pra não chorar’.

“Tava tão feliz/até chegar no Carnaval/quando abri o aplicativo/e avistei o LOCKDOWN!”, canta o rapper, antes de embalar no refrão: “Todo meu dinheiro/já virou papel/não dá nem pra comprar/1 litro de álcool gel.”

Na música, Balela manda um ‘salve’ para nomes do mercado como Luiz Barsi, Luiz Alves, Guilherme Benchimol e até Naji Nahas — fora do jogo há décadas — além dos “CPFs do Brasil inteiro que entraram na Bolsa,” e esculacha papéis que derreteram nos últimos meses, como CVC, IRB e Via Varejo.

Na semana passada, o rap de Balela só concorria em popularidade (e acidez) com o vídeo “Buy and F***-se”, que mostra carregadores de caixão dançando ao som da música “Astronomia”.  (A cena, bizarra, é de um enterro em Gana, onde uma funerária local resolveu prestar um serviço, digamos, diferenciado.)

MC Balela é o nome artístico de Matheus Teodoro, um goiano de 38 anos que começou a vida como redator publicitário em São Paulo e hoje divide o tempo entre a gestão de sua fazenda e a TV Saúde, uma empresa de mídia ‘out of home’ em Goiânia.

Há três anos, quando a Bolsa começou a subir dia sim, dia também, ele sacou seu dinheiro do Santander — para desespero da gerente — e mandou para a XP, depois de ver muitos amigos investindo e ganhando.

Hoje, Balela tem 50% de sua carteira em renda variável, dividida entre ações, FIIs e fundos como o Alaska Black BDR, onde está perdendo 54%.

‘CoronaCrise’ é o retorno de Matheus ao mundo do rap, onde foi um dos precursores do ‘funk ostentação’ com a música “Estilo Balela”, que estourou no verão de 2007.  De lá pra cá, ele passou mais de uma década hibernando, até que os eventos recentes do mercado o inspiraram a escrever outra música.

“Eu queria amenizar esse momento de tristeza que o brasileiro está sentindo e também zuar os caras que tão tentando o todo tempo vender assinatura de relatórios,” Balela disse ao Brazil Journal.

O rapper diz que agora tem amigos ‘à base de Rivotril, em depressão, sem dormir’ por causa das perdas que sofreram.

“Quando você vê o vídeo de uma Bettina da vida falando que ganhou R$ 1 milhão em pouco tempo com 22 anos… Ou os caras das casas de análise falando que ‘quem não tá na Bolsa tá perdendo dinheiro’, a pessoa que nunca investiu pensa: ‘eu preciso estar lá também’.”

CoronaCrise, a música, conclui que vol pode até ser vida, mas um bear market é mortal.

“Muita gente colocou na Bolsa o dinheiro da reserva de emergência acreditando que a Bolsa seria a galinha dos ovos de ouro… O pior é que realizaram o prejuízo, não conseguiram esperar. Bolsa pra mim é uma questão de estômago, de psicológico… é um dinheiro que eu não preciso mexer e tenho isso muito claro. Mas eu vejo que muitos brasileiros que entraram não tinham essa noção.”

Para ele, a crise ainda não acabou, mas a grande lição sobre os ‘especialistas’ do mercado já está clara.

“Ninguém sabe nada!”

 

Abaixo, o clip da música: