A Intel — que já foi sinônimo de chips e enfrenta um declínio de relevância na nova era tecnológica da inteligência artificial — anunciou Lip-Bu Tan, como o seu novo CEO, recrutando um executivo veterano da indústria de semicondutores e investidor em startups de informática para liderar um turnaround.

Tan fazia parte do conselho da empresa mas renunciou no ano passado por divergências estratégicas com o então CEO, Pat Gelsinger – demitido em dezembro.

A chegada de Tan foi celebrada pelo mercado. As ações da companhia, que amargavam uma queda superior a 50% nos últimos doze meses, sobem 16% na manhã de hoje.

A Intel foi a gigante global dos processadores – tanto no design como na fabricação – nos anos de popularização dos computadores pessoais, mas não acompanhou as transformações no mercado.

Fundada em 1968 por Gordon Moore e Robert Noyce, dois dos principais pioneiros do Vale do Silício, vem sendo superada também em um de seus negócios mais rentáveis, a venda de processadores para data centers

Hoje a Nvidia é a líder inconteste no desenvolvimento da arquitetura dos chips mais avançados usados nos sistemas mais robustos de IA. Na manufatura, o domínio global é da taiwanesa TSMC, a única capaz de forjar os chips de última geração.

Lip Bu Tan ok

Tan será o quarto CEO em sete anos – um indicador de sua crise de identidade e dos maus resultados.

O executivo, de 65 anos, nasceu na Malásia e cresceu em Singapura. Com mestrado em energia nuclear pelo Massachusetts Institute of Technology, fundou em 1987 a firma de venture capital Walden International, tendo como foco startups da Ásia. Ficou dois anos no conselho do SoftBank e fez diversos investimentos em companhias chinesas.

Em um relatório de 2023, uma comissão do Congresso dos EUA demonstrou “sérias preocupações” com o envolvimento de Tan em negócios na China. A Walden teria investido em companhias que estavam na lista negra do Departamento do Comércio americano.

De 2009 e 2021, foi o CEO da Cadence Design Systems, uma empresa de software para desenvolvimento de processadores usados pelas grandes do setor, incluindo a Intel. Lá ele comandou um bem-sucedido plano de reorganização da empresa, ampliando vendas e margens.

A Cadence tem market cap de US$ 67 bilhões. A Intel, com a disparada de hoje, vale US$ 104 bi.

Em um comunicado após a sua nomeação, Tan disse que há “oportunidades significativas para refazer nossos negócios e servir melhor os nossos clientes e criar valor para os nossos acionistas.”

O executivo, que assume na próxima semana, indicou que buscará um novo turnaround, sem dar detalhes sobre negócios específicos.

“Em áreas onde temos momentum, precisamos dobrar a aposta e aproveitar a nossa vantagem,” afirmou em sua carta. “Em áreas onde estamos atrás dos concorrentes, precisamos assumir riscos calculados para nos transformar e dar um salto adiante. E nas áreas em que nosso progresso tem sido mais lento que o esperado, precisamos encontrar maneiras de apertar o passo.”

O plano de Gelsinger, quando assumiu em 2021, era fazer da Intel uma fabricante de chips para terceiros – passaria a ser uma foundry (‘fundição’), na terminologia da indústria –, além de continuar desenvolvendo e fabricando os seus próprios produtos de maneira integrada.

O projeto consumiu bilhões e bilhões de dólares em investimentos, mas não trouxe o retorno esperado.

Em um sinal dos tempos, em novembro a Intel deixou o índice Dow Jones Industrial Average. Foi substituída pela Nvidia. No ano passado, as ações da Nvidia acumularam alta de 171%, enquanto a Intel mergulhou 60%.

Há no mercado especulações de que a Intel poderá ser dividida em duas empresas, uma de design e outra de foundry. Uma reportagem da Reuters disse que a TSMC teria sondado Nvidia, AMD, Broadcom e Qualcomm para se unirem em uma joint-venture para assumir as fábricas de processadores.

LEIA MAIS

A Intel está perdida na corrida da IA; “são questões existenciais”, diz analista