O Canadá era um patinho feio para a Ambev. Agora, ganhou um charme.

A gigante de bebidas acaba de fechar uma parceria com a canadense Tilray, uma das maiores produtoras de maconha do mundo, dando um primeiro passo num mercado com um potencial promissor e que vem se mostrando uma tendência irreversível na indústria de bebidas.

O acordo  feito via a cervejaria Labatt e limitado inicialmente ao Canadá  envolve um investimento de até US$ 100 milhões, dividido entre as duas empresas, para a pesquisa e o desenvolvimento de bebidas feitas à base de cannabis, como infusões com CBD e THC.

(A diferença, para quem não é do ramo e nem da erva: o THC é o responsável pelos efeitos alucinógenos e pela sensação de euforia, enquanto o CBD tem propriedades medicinais de relaxamento).

Segundo a Ambev, o possível lançamento e comercialização dos produtos só será discutido no futuro e o acordo atual engloba apenas o desenvolvimento.

Nos Estados Unidos, o consumo de bebidas feitas com extratos de maconha já é liberado em alguns Estados, mas ainda é proibido em âmbito federal. Mesmo no Canadá, onde o uso recreativo de maconha foi legalizado há alguns meses, a venda de bebidas e alimentos com a planta ainda não foi liberada (a previsão é que a liberação ocorra ano que vem).

Em relatório, o Bernstein ressaltou o potencial do mercado de cannabis  que ‘pode se tornar tão grande quanto o de vinho nos Estados Unidos’  e disse que a Ambev entrou no mundo da maconha de uma maneira ‘sensata’.

“Eles evitaram um investimento direto (e caro) em cannabis, como os feitos pela Constellation Brands e pela Altria. Ao invés disso, adotaram uma abordagem experimental, parecida com a da Heineken e a da Molson Coors”, disse.

Para as fabricantes de bebidas, a entrada no mercado da maconha é praticamente um hedge. Enquanto o consumo de cannabis cresce há mais de uma década, especialmente entre os jovens de 21 a 25 anos, a venda de bebidas alcoólicas na América do Norte está estagnada.

A entrada da Ambev no setor já era aventada há alguns meses e tida como um movimento quase natural. 

Mas a empresa chegou atrasada na festa.

A Constellation Brands, dona da marca Corona nos Estados Unidos, decidiu experimentar a erva bem antes (e com muito mais intensidade).

No ano passado, a empresa comprou 9,9% da canadense Canopy Growth e há quatro meses dobrou a aposta: pagou US$ 4 bilhões, aumentando sua participação para 38%  e garantindo o direito de comprar o controle da empresa.

Dona do Marlboro, a Altria também investiu pesado no setor. Há algumas semanas, comprou 45% da canadense Cronos Group, num investimento de quase US$ 2 bilhões. Pelo acordo, a empresa tem o direito de comprar o controle da Cronos nos próximos cinco anos. 

A Heineken lançou recentemente algumas bebidas com CBD e THC, em parceria com a marca Lagunitas, e vende os produtos em alguns pontos comerciais específicos na Califórnia, onde o uso recreativa da maconha é legalizado.

Já a americana Molson Coors fechou uma parceria com a Hydropothecary Corporation (HEXO), em agosto, para o desenvolvimento de bebidas com a planta.

Listada na Nasdaq, a Tilray foi a primeira produtora de maconha a fazer um IPO nos Estados Unidos, em julho deste ano, e já vale mais de US$ 7 bilhões na Bolsa.

Hoje, com o anúncio da parceria, as ações da canadense sobem quase 8%.

Isso que é high.

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